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A oficina do diabo

A oficina do diabo

Mais do que mirá-lo, uma página em branco latia-lhe sem pistas de decifração, prestes a devorá-lo: “E agora, o que vai ser, caro escritor? Somos apenas eu, você e essa baita falta de inspiração”. Não tinha um osso para atirar a si mesmo. Por um instante, amofinou-se, desistiu de escrever. Abriu os jornais e se banhou de sangue. Ligou a TV onde um padre de chapéu branco e calça colada vendia colchões magnéticos. Chorou o mais alto que pode, mamãe não escutou — morrera de desgosto. Tentou rezar, só que Deus não acreditava mais nele. Restava se afobar.

Dias Perfeitos, de Wim Wenders: a inexorável repetição Divulgação / Wenders Images

Dias Perfeitos, de Wim Wenders: a inexorável repetição

O que, para alguns, pode se apresentar como um conformismo melancólico de uma vida trivial e acomodada na repetição, para outros, pode surgir como um reencontro com a finitude, marcada pela resposta do esteta à beleza da vida cujo valor se encontra no fim. “Dias Perfeitos”, filme de 2023, dirigido por Wim Wenders, a partir de um roteiro escrito por Wenders e Takuma Takasaki. Uma coprodução entre o Japão e a Alemanha, protagonizada pelo genial ator Kōji Yakusho. O filme retoma um olhar à uma estética do gesto, com delicadeza e reverência aos detalhes da vida ante a finitude.

Sovietistão: o livro que desvenda a Ásia Central

Sovietistão: o livro que desvenda a Ásia Central

A obra de Fatland — cujo nome completo é: “Sovietistão. Uma viagem pelo Turcomenistão, Cazaquistão, Tadjiquistão, Quirguistão e Uzbequistão” — veio com a finalidade de trazer mais compreensão para esse verdadeiro “aftermath” do experimento soviético. Equipada apenas com o seu russo fluente, Fatland percorre os cinco “istãos” (o sufixo vem do persa e significa “lugar” ou “terra”) que um dia compuseram a antiga Rota da Seda, relatando suas experiências e impressões com uma desenvoltura de romancista, não obstante a presença maciça no texto de dados históricos, geográficos e políticos sobre a região.

O Poderoso Chefão entre a utopia da família e a História Divulgação / Paramount Pictures

O Poderoso Chefão entre a utopia da família e a História

Um cineasta disse, certa vez, que preferia a adaptação de livros medianos ou menores para o cinema. Grandes obras, segundo ele, são mais complexas e até mesmo impossíveis de se transpor da escrita para as imagens. A mão de quem filma corrige as imperfeições de uma história não tão bem elaborada, dando novo sentido à forma e ao conteúdo. É possível que o caso mais bem sucedido de versão cinematográfica de livro menor seja “O Poderoso Chefão”, de Mario Puzo, que ganhou outra dimensão pelo olhar do diretor Francis Ford Coppola em sua trilogia com o mesmo nome.

Machadianices de um observador atáxico

Machadianices de um observador atáxico

Inaugurar uma coluna é um desafio muito interessante, ainda mais quando não se quer dar sermões da montanha, nem ser crucificado, mas já sabendo que o caminho é com a “cruz” nas costas. Dizem que cada um carrega (ou Deus dá) a cruz que consegue. Gosto dessa imagem, apesar de saber que, por vezes, a cruz é muito pesada e isso faz com que a hora do descanso seja levada em conta, mesmo sendo ateu.