Autor: Eberth Vêncio

O problema não é o Centrão e o Congresso Nacional. O problema são os eleitores

O problema não é o Centrão e o Congresso Nacional. O problema são os eleitores

Carece deixar de dizer que política não presta e que os políticos são todos iguais, porque eles não são. O problema do Brasil é o brasileiro. O cidadão ufanista que enche a boca para declarar que odeia política, contudo, nunca mais leu um livro desde que saiu do colégio. O problema é aquele transgressor contumaz de normas e regulamentos que denomina fiscalização de trânsito como “indústria da multa”. É o indivíduo que sempre arruma o jeito certo de fazer a coisa errada.

Faça o amor grande de novo

Faça o amor grande de novo

Há encontros que não prometem nada, mas entregam tudo: um pouco de silêncio, uma lasca de compaixão, a memória de um tempo em que conversar ainda era gesto íntimo. Na lanchonete esquecida por Deus e pela prefeitura, um ginecologista cansado e um velho bancário soropositivo trocam banalidades — e verdades duras. Entre esfirras, retrovirais e mocotós alheios, a crônica revela o que ainda resta quando a cidade apodrece: escuta, humor, alguma ternura e o estranho consolo de saber que, por um instante, alguém viu.

NA-NA-NA-NA-NA-NA-NA

NA-NA-NA-NA-NA-NA-NA

Chamar Paul McCartney de velho seria um insulto à própria velhice. A mocidade apegou-se a ele desde os primórdios da beatlemania até os dias atuais, quando continua a subir no palco para testar os limites físicos de suas cordas vocais enrijecidas pelo tempo. Desafinar todo mundo desafina. Não vão querer exigir afinação perfeita de um homem de 83 anos de idade. Há, contudo, que se desafinar com elegância. Desafiar o tempo. Destilar o amor sob olhares de contentamento. Amor é troca. Amor é via de mão dupla.

Não seria legal se fossemos mais jovens? (10 canções essenciais de Brian Wilson e dos Beach Boys) Foto / Christian Bertrand

Não seria legal se fossemos mais jovens? (10 canções essenciais de Brian Wilson e dos Beach Boys)

A morte de Brian Wilson não apenas encerra a trajetória de um gênio da música pop — ela acende memórias adormecidas, evoca juventudes perdidas e escancara a crueldade do tempo. O líder dos Beach Boys, surfando entre sucessos e demência, nos deixa um legado de harmonias impecáveis e dores silenciosas. Neste texto, a emoção não é tratada com sentimentalismo barato, mas com ironia afiada e certa resignação nostálgica. Não se trata apenas de música, mas de envelhecer ouvindo ecos de ondas que já quebraram. Porque, no fim das contas, continuar vivo também tem seu custo. E às vezes, é alto.

Arco-íris em branco e preto

Arco-íris em branco e preto

A vida era doce, mas não era mole. Destituído de vírgulas rapaduras e outras precauções gramaticais um gato cinza passou sob uma escada amarela na qual um homem preto de uniforme roxo fazia reparos na calha de uma casinha rosa cujo proprietário era um homem branco de olhos azuis e de ar superior. Sentindo-se mais por baixo do que diferencial de sapo um cão caramelo de olhar tristonho permanecia deitado na calçada à espera de que o homem preto de uniforme roxo descesse logo da escada amarela para alimentá-lo com um suculento naco de carne vermelha de preferência um filé.