Autor: David Mandelbaum

Que saudade de Henry Miller…

Que saudade de Henry Miller…

Caim jogou a culpa para o Criador. Uma escolha óbvia, dado o contexto genesíaco. Havia pouca gente no mundo. Ou culpava Deus ou culpava os pais. Embora hoje a segunda opção esteja mais em voga, na época, colocar o homicídio na conta dos bate-bocas frequentes entre Adão e Eva provavelmente soaria como um argumento incompreensível. Com o decorrer dos milênios, no entanto, o repertório dos pecadores pegos em flagrante mostrou-se infinito.

“The eyes, chico. They never lie.”

“The eyes, chico. They never lie.”

Nelson Rodrigues já dizia: “Certas coisas, certas verdades, exigem um canalha para dizê-las”. É por isso que se pode, sem nenhum constrangimento, aprender — e muito — com figuras um tanto questionáveis. É o caso do personagem Tony Montana, vivenciado por Al Pacino em “Scarface” (1983). Numa cena clássica em que o mafioso cubano aparece dirigindo um Cadillac 1963 enquanto conversa com “Manny” Ribera, seu braço direito, ele diz: “The eyes, chico. They never lie”.

A bula do crime: confissões de um canibal Alexandra Boulat / SIPA

A bula do crime: confissões de um canibal

11 de junho de 1981. Renée Hartevelt, uma jovem holandesa de 25 anos, recebe um convite de seu colega de classe em Sorbonne, Issei Sagawa, para ir à sua casa ajudá-lo com um inexistente trabalho de faculdade (ele inventou que seu professor havia pedido a gravação da leitura de alguns poemas no original em alemão, idioma que Renée era fluente). Ela aceita. Ao chegar no apartamento, os dois estudantes de literatura comparada conversam enquanto bebem chá e uísque. Tudo parece normal. Depois, Sagawa liga o gravador e pede que Renée comece a ler o poema. Enquanto ela declama os versos expressionistas num alemão perfeito, Sagawa, que está atrás dela, alcança o armário e tira de lá um rifle de caça. Ele se aproxima devagar, mira na cabeça de Renée e puxa o gatilho.

A bula do crime: o furto dos quadros do Masp

A bula do crime: o furto dos quadros do Masp

As obras foram levadas até um sobrado em Ferraz de Vasconcelos, uma cidade industrial construída ao redor de uma fábrica de lixas. Lá, permaneceram 19 dias até serem recuperados pela Polícia Civil de São Paulo. As pinturas não foram escolhidas ao acaso; elas eram avaliadas em 55 milhões de dólares e foram especificamente encomendadas por uma pessoa cuja identidade é até hoje desconhecida.

A bula do crime: o ataque com gás sarin no metrô de Tóquio

A bula do crime: o ataque com gás sarin no metrô de Tóquio

É quase impossível encontrar uma autêntica indiferença pelo fenômeno que chamamos de “seita”. Em geral, a reação das pessoas tende a variar entre o medo, a repulsa e o fascínio. Os membros das religiões organizadas, por exemplo, sempre têm na manga alguma passagem da sua revelação que alerta contra os “falsos profetas”. Já os ateus inclinam-se a colocar as seitas na mesma categoria “acientífica” das religiões (há exceções, já que existem seitas que possuem uma roupagem científica).