Último filme estrelado por Bruce Willis antes de adoecer está na Netflix Divulgação / Hood River Entertainment

Último filme estrelado por Bruce Willis antes de adoecer está na Netflix

Se um filme não diz a que veio, chegando até a mesmerizar a plateia, nos primeiros cinco minutos, é quase certo que as próximas duas horas, pouco mais, pouco menos, sejam uma coleção de momentos enfarosos, definido por atores em surdo desespero a tentar conferir sentido a uma maçaroca de cenas pretensiosas, desconexas entre si, que levam uma história inverossímil do nada a lugar algum.

Essa teoria, aplicável com boa margem de acerto a qualquer produção, ilustra o que é “Um Dia para Morrer”, uma primeira despedida de Bruce Willis, que se afastou cordatamente de seu ofício ao saber do diagnóstico da afasia que o vai encarcerando cada vez mais em seu próprio universo. No thriller policial de Wes Miller, o astro das franquias “Duro de Matar” (1988-2013), “Red – Aposentados e Perigosos” (2010-2013), e o inesquecível “A Gata e o Rato” (1985-1989), a dramédiaescrita por Glenn Gordon Caron, parece à beira da síncope, e não por culpa dele. O roteiro de Miller, Rab Berry e Scott Mallaceé, grosso modo, um mosaico desses personagens de Willis, operação tolamente zelosa, uma vez que ele ainda dispunha de bala no tambor para legar ao público outro de seus tipos miseravelmente encantadores.

Na abertura, a edição cheia de firulas tecnológicas de ​Julie Garcés e SergiyKlewtsow, dá contornos fantasmagóricos às pessoas em cena, homens e mulheres pretos e mestiços sob a mira de fuzis de supremacistas brancos que provavelmente apenas executam o trabalho sujo para alguma organização terrorista capilarizada pelos intestinos do poder. A esposa grávida de Connor Connolly, o arquétipo do tira escrupuloso personificado por Kevin Dillon, é um dos reféns, e ele tem de elaborar rápido um plano para libertá-la, se quiser manter sua sanidade mental. 

Uma grande fatalidade rompe a carga dramática do enredo, espraiando-se para o resto do longa, e esse é o gancho de que o diretor se vale para introduzir Willis, na pele do comissário Alston, um policial que se foi acostumando com propinas cada vez mais gordas e agora está convicto de que não pode fazer nada por Jackson, a antes pacata capital do Mississippi, no sudeste americano, sem se lambuzar no pântano da corrupção.   

O verdadeiramente lamentável em “Um Dia para Morrer” é o desperdício de um mote que poderia ser tão cheio de possibilidades. Num piscar de olhos, Alston é tão imaculado quanto o mocinho Connolly, e nota-se o incômodo de Willis e Dillonquanto a defender as condutas deles. Não é a primeira vez que núcleos se confundem com tamanha gravidade, claro, mas em raras ocasiões se viu uma direção tão relapsa, dependente em excesso do improviso do elenco. Resta na boca um travo adstringente, e de imediato se pensa na desdita de Willis — e nesse seu atabalhoado canto do cisne, indigno de seu talento.


Filme: Um Dia para Morrer
Direção: Wes Miller
Ano: 2022
Gêneros: Ação/Policial/Thriller
Nota: 7/10