Filme da Netflix utiliza Zygmunt Bauman para explicar o amor na época das relações líquidas Divulgação / Netflix

Filme da Netflix utiliza Zygmunt Bauman para explicar o amor na época das relações líquidas

A adolescência foi moldada durante a Revolução Industrial, particularmente na fase que vai de 1850 a 1945, marcada pela expansão do capitalismo. Nesse período, jovens de treze a dezenove anos passaram a ser vistos não mais como adultos em miniatura, mas como seres em pleno desenvolvimento com direitos próprios. Eles começaram a se desvencilhar do controle parental, ganharam influência sobre irmãos menores e começaram a experimentar, ainda que timidamente, sentimentos amorosos.

Com o abandono das jornadas laborais de até dezesseis horas para a frequência escolar, esses jovens tiveram a oportunidade de formar seus próprios conceitos de vida, impulsionados pelo contato com livros que abrangiam literatura, poesia e filosofia. Isso facilitou a formação de argumentos robustos o suficiente para enfrentar, e muitas vezes superar, a autoridade dos pais, apesar de ainda prevalecerem frequentes negativas paternas que paradoxalmente liberavam mais do que restringiam, protegendo mais do que ofendendo.

Sarah Dessen, autora americana com uma notável quantidade de livros vendidos, parece captar essas nuances adolescentes de maneira profunda. O filme “A Caminho do Verão” (2022), baseado em seu romance juvenil lançado pela editora ID há onze anos, explora as complexidades das relações amorosas entre jovens adultos, navegando por descobertas típicas dessa fase. A protagonista, Auden, interpretada por Emma Pasarow, é a imagem da jovem ideal: dedicada, equilibrada e atraente, consciente de suas virtudes e suficientemente madura para manejar sua vaidade. Premiada com uma bolsa de estudos, ela ambiciona dar sentido à vida, especialmente na velhice. Apesar da maturidade precoce, o filme habilmente desvia de cair em moralismos, creditando a ponderação de Auden à reflexão, não ao orgulho.

O enredo se desenrola no verão americano, com Auden mudando-se da casa de sua mãe, Victoria, em Nova York, interpretada por Andie MacDowell, para a casa de seu pai, Robert, interpretado por Dermot Mulroney, em Colby, na costa. Robert, que tem uma nova família com Heidi, interpretada por Kate Bosworth, parece repetir erros passados.

O roteiro, coescrito pela própria Dessen e Sofia Alvarez, foca em Auden e sua decisão de trabalhar com a madrasta em uma boutique em Colby, um movimento que ela justifica com uma maturidade filosófica improvável para sua idade, buscando viver onde ninguém a conhece. Auden logo conhece Jake, um interesse amoroso potencial interpretado por Ricardo Hurtado, mas rapidamente percebe sua superficialidade. O filme, conforme avança, revela mais sobre os colegas de trabalho de Auden e as complicações românticas que surgem, tratando-se de uma trama de fácil digestão e resolução rápida, típica de uma sessão descompromissada de cinema.

Embora não seja profundo o suficiente para ser considerado uma obra de arte cinematográfica, “A Caminho do Verão”  cumpre bem seu papel de entretenimento leve. O desenvolvimento da trama pode ser atropelado, mas é eficaz para um filme destinado a ser visto em um dia de verão nublado, proporcionando duas horas de diversão sem grandes preocupações.


Filme: A Caminho do Verão
Direção: Sofia Alvarez
Ano: 2022
Gênero: Comédia romântica
Nota: 8/10