Filme épico, que superou as bilheterias de ‘Barbie’ e ‘Oppenheimer’ em sua estreia, acaba de chegar à Netflix Divulgação / Toho Company

Filme épico, que superou as bilheterias de ‘Barbie’ e ‘Oppenheimer’ em sua estreia, acaba de chegar à Netflix

Em 245 a.C., o reino de Qin, no extremo noroeste do que hoje é a China, um território distante do nosso tempo quase três milênios, prospera às custas da dor de civilizações vizinhas, levando quase cinco séculos, desde sua instituição, em 777 a.C., para tornar-se um império e, por conseguinte, o primeiro Estado unificado chinês, em 221 a.C. Inspirado na série de mangá escrita e ilustrada por Yasuhisa Hara, muito popular em meio ao público japonês, “Kingdom 3: A Chama do Destino” continua a registrar a luta de Lin Xin, escravizado e conduzido à força para essa terra estranha e seu esforço por ser novamente livre.

O filme de Shinsuke Sato serve de metáfora para que se aborde a perseverança do Japão frente a seus invasores, dois mil anos antes da Primeira Guerra Sino-Japonesa, a Guerra Jiawu, entre 25 de julho de 1894 e 17 de abril de 1895 — cujos desdobramentos se espraiaram para quatro décadas mais tarde, de 7 de julho de 1937 a 2 de setembro de 1945 —, com muito espaço para a fantasia, materializada em efeitos especiais vistosos.

O roteiro de Yasuhisa Hara e Tsutomu Kuroiwa volta brevemente a “Kingdom 2: Far and Away” (2022) quando Lin Xin, ainda criança e longe de se tornar “o maior general da Terra”, está disposto a oferecer sua vida em sacrifício pela causa que resume boa parte de sua história. Essa obsessão do garoto por Wang Qi, o anti-herói de Takao Osawa, é retomada por Sato no intuito de, no desfecho, sugerir a união improvável dos dois, relação de saborosa dialética que monopoliza os olhares inúmeras vezes no decorrer dos 130 minutos.

Para essa dupla, apenas a vitória interessa, e no prólogo, Lin Xin se deslumbra com a planície de Dakan, imensidão de campos que sediaria a mais dura batalha durante a Campanha Keiou, em 244 a.C, entre os invasores patrocinados pela dinastia Qin, liderados pelo general Duke Hyou, e o exército da resistência, do general Wei Go Kei, um confronto sangrento por afirmação e glória. 

Na pele do Lin Xin adulto, Kento Yamazaki protagoniza as cenas mais cativantes de “A Chama do Destino”, à frente de um grupamento de soldados e um corpo de mercenários contra os famosos “Mil Comandantes de Qin”, conhecidos pela bravura e crueldade.

No momento em que se dá conta de que a unificação da China é a cristalização de um sonho de um passado que se julgava morto, tornado realidade com a instituição da sede do reino de Zhao, o Estado nascido durante o Período dos Reinos Combatentes graças à atuação incansável de Zhao Yun (168-229), um dos cinco Generais-Tigre chineses, mantido por sábios como Zhao Buzhi (1053-1110), filósofo e poeta da dinastia Sung. O personagem de Yamazaki entra como uma figura que sintetiza o desejo de vingança de um povo oprimido que sabe virar o jogo na hora certa, transformando-se num dos mitos mais longevos da Ásia.


Filme: Kingdom 3: A Chama do Destino
Direção: Shinsuke Sato
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Guerra
Nota: 8/10