A comédia romântica fofinha e levinha da Netflix que já foi vista por 4 milhões de pessoas no mundo todo c

A comédia romântica fofinha e levinha da Netflix que já foi vista por 4 milhões de pessoas no mundo todo

Se as tensões entre indivíduos são frequentes, as relações forçadas são um terreno fértil para conflitos, beirando sempre o confronto verbal, o embate físico, o registro policial e anos de intermináveis disputas judiciais. O que se passa além dos limites de cada residência, protegidos por paredes e cercas, é um mistério, e cada um é responsável por sua própria vida, na esperança de nunca ser surpreendido por incidentes cotidianos que afetam toda a vizinhança.

Em “Uma Parede entre Nós”, os protagonistas, dois vizinhos distintos, passam a maior parte dos 98 minutos do filme sem se encontrarem pessoalmente. No entanto, essa distância física não impede que suas vidas se entrelacem, evidenciando que o destino, quando desafiado, encontra formas de agir. Patricia Font vai além do convencional ao explorar o roteiro de Marta Sánchez, transformando o filme em uma perspicaz reflexão sobre os desafios do amor, seja ele grande ou pequeno, distante ou ao alcance do apartamento ao lado.

Ninguém se entrega ao amor sem consequências. O verdadeiro amor demanda tempo para se desenvolver plenamente, exigindo que se ultrapassem desejos pessoais, se confrontem opiniões e se renuncie à própria certeza em prol da felicidade do outro, e do casal como um todo. Quando percebem que o propósito de estarem juntos é descobrir o que os mantém unidos, lutando para revigorar o que compartilham e escapar das fantasias ilusórias sobre o amor, eles encontram uma chance maior de felicidade, mesmo que brevemente, no caos da vida cotidiana.

A dinâmica de um prédio que abriga uma pianista e uma cantora, e um homem dedicado ao desenvolvimento de jogos clássicos, separados apenas por uma parede fina e oca, é fascinante, explorada com delicadeza por Font, especialmente no primeiro ato. A diretora enfoca a jornada de Valentina, a artista, entrelaçando-a com os acordes suaves do piano, antes de se voltar para David, o inventor solitário. Aitana e Fernando Guallar compartilham momentos, mas se destacam nas cenas separados pela parede que dá título ao filme. E não é surpreendente que essa barreira, literalmente, venha abaixo.

A medida que o enredo avança, os personagens se veem envolvidos em um intricado jogo de convivência e descoberta mútua, mesmo sem a presença física um do outro. Através de conversas sussurradas através da parede, trocas de olhares furtivos nos corredores e gestos de solidariedade em momentos de crise, eles começam a compreender a complexidade dos sentimentos que os ligam.

Valentina e David representam facetas distintas do mesmo desejo humano: a busca por conexão. Enquanto ela expressa sua arte através da música, ele busca criar universos digitais onde as pessoas possam se perder e se encontrar. Suas jornadas individuais se entrelaçam de forma sutil, mas profunda, revelando que, por trás de suas diferenças, existe uma afinidade que transcende as barreiras físicas.

A queda da parede que os separa simboliza não apenas a superação dos obstáculos externos, mas também a aceitação mútua e o reconhecimento da importância um do outro em suas vidas. É um momento de libertação, onde as fronteiras entre eles se dissolvem e eles se permitem mergulhar em um novo capítulo de suas histórias, juntos.

“Uma Parede entre Nós”, na Netflix, é um testemunho da capacidade humana de encontrar conexão e significado mesmo nas circunstâncias mais improváveis. É um lembrete de que, no final do dia, somos todos vizinhos nesta jornada chamada vida, e é através da empatia e da compreensão mútua que podemos encontrar verdadeira felicidade e realização.


Filme: Uma Parede entre Nós 
Direção: Patricia Font
Ano: 2024
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 7/10