A história de amor doentia e perturbadora que fez a Netflix ser processada Divulgação / Netflix

A história de amor doentia e perturbadora que fez a Netflix ser processada

Renunciar a objetivos em prol de uma causa que pode transcender a própria existência talvez não seja tão radical. Embora se diga o que quiser, a maior aspiração humana continua a ser o amor. Ser envolvido por um sentimento arrebatador, que tanto conforta quanto angustia, que desorienta ao mesmo tempo que ilumina áreas antes obscuras em nós, é uma das experiências mais notáveis que a vida oferece. À medida que nos habituamos a essa nova e extraordinária sensação, se ela estiver enraizada na verdade, começamos a entender que o outro também merece desfrutar desse prazer.

No entanto, um amor que se submete a muitas racionalizações é qualquer coisa, menos amor. Quando alguém percebe que ama, pouco importa se é correspondido ou se acaba se tornando um tolo, aceitando a triste realidade de um amor ilusório. O que realmente importa é deixar-se envolver por uma das provas mais claras de que estar no mundo não é uma perda de tempo, uma luta infrutífera. A vida pode ser um refúgio de conforto e prazer que quase todos merecemos.

Apesar de toda a beleza que o amor possa ter, envolver-se intimamente com alguém frequentemente revela aspectos indesejáveis. David M. Rosenthal utiliza um argumento único para examinar a mais humana das emoções. “Paixão Sufocante”  (2022) revela, sem ilusões, os defeitos de um relacionamento que, como muitos, começa bem, mas degenera por razões consideráveis. Esse é o ponto que o diretor deseja explorar, através de personagens cujo amor, surgido precipitadamente, é guiado pela simples ideia de estar apaixonado, longe do que o amor verdadeiramente é. Rosenthal, com pequenas variações de intensidade, cria sequências que deixam o espectador desconcertado, além de momentos que tiram o fôlego, graças à fotografia impecável de Thomas Hardmeier.

Inspirado na história real de Audrey Mestre (1974-2002), o roteiro do próprio diretor dá vida a Roxana Aubry, uma estudante de biologia marinha interpretada por Camille Rowe. Roxana, que enfrenta um tédio característico de jovens privilegiadas, se permite um retiro na Riviera Francesa, onde conhece o mergulhador Pascal Gautier, interpretado por Sofiane Zermani, por quem se sente imediatamente atraída. Rosenthal exalta a vida como a arte do encontro, mas à medida que a história avança, são os desencontros que definem os rumos do que realmente importa para os dois, especialmente para Roxana.

A transformação de Roxana é apresentada de forma cativante. A paixão sufocante do título se manifesta conforme esperado: Roxana é atraída por Pascal, que representa a vida que sempre desejou. O problema, que é o ponto chave do argumento de Rosenthal, é que o novo namorado se torna uma inspiração tão forte que ela deseja não só ser como ele, mas superá-lo. À medida que a trama se desenrola, a narrativa destaca a psicopatia de Pascal, centrada em seu charme com as mulheres. Ele é um conquistador natural, comparável a Édipo, que, apesar de seus poderes, não é imune às armadilhas do destino, levando ao colapso os que ama.

Audrey Mestre faleceu em 12 de outubro de 2002, na República Dominicana, enquanto tentava bater o recorde mundial de mergulho, de 171 metros, movida pelo amor ao homem que a ensinou a desafiar seus medos e explorar as profundezas do oceano.


Filme: Paixão Sufocante
Direção: David M. Rosenthal
Ano: 2022
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 8/10