A obra-prima premiada com Johnnhy Depp que está na Netflix Divulgação / Orly Films

A obra-prima premiada com Johnnhy Depp que está na Netflix

Roman Polanski é uma das figuras mais contraditórias do cinema. Sobrevivente do Holocausto, o realizador judeu polaco perdeu praticamente toda a família e passou os anos do regime nazista exatamente como Wladyslaw Szpilman, homem que retratou em seu aclamado “O Pianista”, que o rendeu um Oscar de melhor direção. Depois de viver no gueto de Cracóvia, ele teve de perambular por florestas, escondendo-se em celeiros de fazendas, roubando alimentos e esgueirando-se na escuridão para não ser encontrado pelo bando de Hitler. Depois da guerra, ele reencontrou seu pai, único sobrevivente de sua família além dele. Durante a juventude, começou a fazer filmes e se mudou para os Estados Unidos, em 1968, quando filmou “O Bebê de Rosemary”, que o consagrou mundialmente, embora alguns anos antes já tivesse sido premiado com o Urso de Ouro por “Repulsa”.

Mas sua passagem pelos Estados Unidos foi tão traumática quanto sua vida na Polônia. Enquanto viajava para promover “O Bebê de Rosemary”, a quadrilha de Charles Manson invadiu sua mansão e assassinou sua esposa grávida, Sharon Tate. Ele, então, decidiu retornar para a Europa. Após alguns anos, Polanski voltou aos Estados Unidos, onde gravou e lançou “Chinatown”. Mas novamente ele passaria por mais problemas. O cineasta acabou condenado por estupro após ter tido relações sexuais com uma adolescente de 13 anos em uma festa. Polanski retornou à Europa para evitar a prisão e, desde então, nunca mais pisou no país.

Sua carreira é marcada por dramas e suspenses, a maioria deles considerados obras de arte, que imortalizaram seu nome no cinema e possibilitaram que atores e atrizes interpretassem papeis únicos e extremamente potentes e desafiadores. Ele próprio já atuou em mais de 40 realizações, a maioria sua, e protagonizou “O Inquilino”, que integra sua importante e icônica Trilogia dos Apartamentos.

 “O Último Portal”, protagonizado por Johnny Depp, é uma de suas obras mais sombrias e macabras. Ao contrário da maioria das histórias de terror que são retratadas nos cinemas, Polanski desenrola sua atmosfera de paranoia e medo de uma forma muito particular. Ele, com certeza, é um cineasta autoral que revolucionou de muitas formas o gênero. Com atmosferas intensas e claustrofóbicas, Polanski provoca um senso de confinamento e neurose, questionando a realidade e a sanidade de seus protagonistas. Enquanto isso, nós, de nossas cadeiras, sentimos muito desconforto e insegurança com o que vemos na tela.  

Não bastasse isso, seus filmes sempre se encerram de maneira misteriosa, deixando mais dúvidas que certezas na mente dos espectadores. É o caso de “O Último Portal”. O enredo gira em torno de Dean Corso (Depp), um especialista em autenticidade de obras literárias antigas e raras. Sua vida sofre uma reviravolta quando é contratado pelo estudioso em ocultismo Boris Balkan (Frank Langella). O cliente está disposto a pagar o quanto for necessário para Corso descobrir se um livro que ele comprou de um aristocrata suicida é realmente autêntico. A obra é de autoria de Torchia, um autor veneziano que teria sido queimado na fogueira após coescrever e publicar livros com a parceria do próprio Lúcifer com mensagens enigmáticas. Apenas três exemplares teriam restado. Balkan quer saber se o seu é realmente um destes. Durante as investigações de Corso, ele se vê envolvido em uma conspiração cheia de assassinatos, segredos e mistérios.

A trama envolvente e intricada mistura composições visuais marcantes, com câmeras em ângulos inesperados e diversos símbolos e metáforas, além dos cenários pitorescos milenares da Europa, como castelos, ruas de pedras, antigos comércios, montanhas, dentre outros. O filme é de 1999 e os efeitos especiais envelheceram, mas não reduzem o valor da obra.


Filme: O Último Portal
Direção: Roman Polanski
Ano: 1999
Gênero: Mistério / Terror / Suspense
Nota: 9/10