Thriller perturbador europeu, na Netflix, não vai te deixar desgrudar os olhos da tela Nattida-Jayne Kanyachalao / Netflix

Thriller perturbador europeu, na Netflix, não vai te deixar desgrudar os olhos da tela

As heranças genéticas deixadas pelos nossos pais vão muito além de uma cor de olho, um trejeito ou um sorriso. Nosso DNA carrega informações que serão cruciais na nossa existência e que poderão definir até quando e como morreremos. Mas não são apenas condições que afetam nosso desempenho físico que podem ser herdadas dos pais. Transtornos que afetam a mente e o espírito também vêm em ciclos geracionais e podem impactar nossa rotina.

Suspense slow-burn do cineasta belga Steffen Geypens, que ele coescreveu com Robin Kerremans e Hasse Steenssens, “O Som do Caos” narra a luta mental de Matthias (Ward Kerremans), um bem-sucedido influencer que se muda para sua casa de infância com a namorada Liv (Sallie Harmsen) e o filho bebê Julius.

Em um cenário idílico nos arredores de Bruxelas, uma casa imponente neoclássica repousa sobre um campo verde nas proximidades de um lago. A fotografia parece de um conto de fadas, mas em breve essa história toma rumos verdadeiramente aterrorizantes.

A casa onde Matthias cresceu com seu pai, Pol (Johan Leysen), não foi exatamente um lar feliz. Agora idoso e com demência, Pol mora em uma casa de repouso não muito distante e tem o hábito de caminhar vez ou outra no gramado de sua antiga residência. Um dia, Matthias avista o pai da janela e vai até lá para levá-lo de volta à clínica. Pol o guia até os portões de uma indústria abandonada onde ele trabalhou há décadas e que guarda um passado obscuro. O velho balbucia que o lugar tem segredos e a fala desperta curiosidade em Matthias, que faz uma enquete para seus seguidores, perguntando se eles querem saber sobre o lugar em ruínas.

Então, o rapaz começa a investigar os acontecimentos que fizeram a antiga fábrica se tornar um galpão vazio e assustador. Ele descobre que quando o negócio chegou na cidade, logo foi bem recebido pela população, que via o empreendimento como oportunidade de empregos e crescimento para a região. No entanto, logo a fábrica trouxe problemas, poluindo a água que abastece a cidade, provocando doenças e uma tragédia: uma inundação que matou cinco trabalhadores e culminou em um processo judicial que fechou suas portas de uma vez por todas. O pai de Matthias era gerente do lugar e acabou demitido após o caso.

As descobertas de Matthias foram feitas por meio de recortes e arquivos de jornais. No entanto, ele acredita que há mais segredos obscuros para serem desvendados. Não demora para que sua empreitada em busca da verdade se torne uma verdadeira obsessão que o tirará gradualmente dos eixos de sanidade.

Enquanto isso, Matthias fica encarregado de cuidar do bebê quando Liv não está por perto. Algumas madrugadas ele também precisa se levantar da cama para socorrer quando Julius chora. No entanto, agora sofrendo com ansiedade, paranoia e alucinações, Matthias se torna um risco para a segurança da criança. Conforme acompanhamos os desdobramentos das investigações do jovem influencer em relação à fábrica e do declínio de sua sanidade mental, também descobrimos um segredo de família que traz algumas explicações para a relação turbulenta entre Matthias e seu pai, sobre a morte de Michelle (Lize Feryn), mãe do protagonista, e sua saúde emocional.

Com um roteiro promissor, uma fotografia magnética e atuações  satisfatórias, “O Som do Caos” tem um ritmo bastante arrastado e desemboca em revelações pouco surpreendentes. Não é ideal para quem espera muitos pulos de sustos ou um desfecho absurdo. Mesmo assim, é um filme em que podemos aproveitar a discussão sobre transtornos mentais, especialmente aqueles que acometem pais no pós-parto. Ainda, dá para ser apreciado em uma tarde desocupada e despretensiosa.


Filme: O Som do Caos
Direção: Steffen Geypens
Ano: 2023
Gênero: Suspense / Drama
Nota: 8/10