Baseado em livro de autor ganhador do Nobel de Literatura, obra-prima do cinema europeu está na Netflix Rolf Konow / SMPSP

Baseado em livro de autor ganhador do Nobel de Literatura, obra-prima do cinema europeu está na Netflix

Em “Um Homem de Sorte” (2018), a questão da origem humilde como obstáculo ganha destaque, à medida que os personagens mergulham em uma trama de ambição por fortuna e prestígio. Eles se encontram em confronto com um sistema poderoso e implacável que se recusa a ceder espaço. A pergunta que permeia o filme de Bille August é por que esses mundos paralelos ousaram se cruzar.

Baseado no romance “Lykke-Per” de Henrik Pontoppidan, premiado com o Nobel de Literatura de 1917, o roteiro conduz o melodrama de forma intensa, equilibrando-se no limite. August, conhecido por seu filme “Pelle, o Conquistador” (1987), vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1989, domina a narrativa, permitindo que os personagens revelem a profundidade de suas emoções. A história é repleta de pathos, mas o brilho de August está na maneira sutil como comunica o que não é dito explicitamente, deixando que o público preencha as entrelinhas.

Peter Andreas, interpretado por Esben Smed, foge de seu passado rejeitando seu nome e partindo para Copenhague em busca de uma vida melhor. Sua natureza sonhadora é capturada com maestria, e à medida que a trama se desenrola, a ambição de Peter se torna evidente. A inovação de Pontoppidan, engenheiro e jornalista, ao explorar as possibilidades de energia limpa e seu impacto no poder econômico, é notável. O filme retrata de forma cativante como Per, excluído das elites, precisa de contatos e patrocínio para realizar sua visão.

A relação entre Per e Jakobe Salomon, interpretada por Katrine Greis-Rosenthal, é complexa. Jakobe, filha de uma família influente, surpreende ao aceitar o corte de Per, mas o assédio moral de seu pai a leva ao rompimento inevitável. A diferença de fé e status social torna evidente que sua relação estava fadada ao fracasso desde o início.

“Um Homem de Sorte”, dirigido por Bille August, se destaca como um dos filmes mais sofisticados do século 21, mesmo em meio à crescente indústria cinematográfica dinamarquesa. O diretor mescla a complexidade do enredo com a excelência técnica, notável na cinematografia de Alar Kivilo. A sequência da despedida entre Per e Jakobe é sutil e impactante, ressaltando que, apesar das semelhanças em certos aspectos, cada filme de August possui seu próprio charme. “Um Homem de Sorte” segue essa tradição de encantar o público.


Filme: Um Homem de Sorte
Direção: Bille August
Ano: 2018
Gênero: Drama/Romance
Nota: 9/10