Indicada ao Oscar, obra-prima com atuação brilhante de Johnny Depp, na Netflix, merece ser vista duas vezes Divulgação / Mandalay Entertainment

Indicada ao Oscar, obra-prima com atuação brilhante de Johnny Depp, na Netflix, merece ser vista duas vezes

Em 1997, Mike Newell desafiou as convenções dos filmes de máfia com “Donnie Brasco”, um filme baseado na adaptação do roteiro de Paul Attanasio da biografia de Joseph D. Pistone, intitulada “Minha Vida Clandestina na Máfia”, escrita por Richard Woodley. Com Johnny Depp no auge de sua carreira cinematográfica e Al Pacino já consagrado, o filme apresenta Donnie Brasco e Lefty Ruggiero como personagens centrais.

A trama desenrola-se com Donnie, um agente do FBI que se infiltra na Família Bonanno, uma das Cinco Famílias que compõem a máfia ítalo-americana. Fingindo ser um especialista em roubos de joias, ele estabelece uma relação próxima com Lefty, que o acolhe na organização criminosa e se torna seu mentor. Enquanto desempenha atividades como coletar e negociar joias para a família, Donnie acumula provas e informações cruciais sobre os crimes e os envolvidos para o FBI.

Donnie continua nesse arriscado jogo duplo entre 1976 e 1981, onde sua vida se torna progressivamente enredada nos meandros perigosos dos crimes que investiga. À medida que sua lealdade é testada, ele enfrenta um dilema devastador: abandonar seu disfarce, arriscando a vida de Lefty e sua própria família.

O filme expõe a dinâmica de poder em constante mutação entre Donnie e seus colegas do crime. A incerteza paira sobre sua cabeça, e ele vive na constante apreensão de ser o próximo alvo de traições e intrigas. Essa paranoia e o estresse resultante afetam sua saúde mental e minam sua relação com sua esposa e filhas.

A atuação de Johnny Depp transcende sua persona habitual e se destaca como uma das mais marcantes em sua carreira. Al Pacino, por sua vez, abandona sua típica grandiosidade para encarnar um intermediário ansioso e temeroso, desesperado por manter o favor de seus superiores, apesar de sua completa falta de importância. Seu guarda-roupa extravagante e espalhafatoso simboliza essa ilusão de grandeza que rapidamente se desfaz.

Ao contrário da estética sombria e iluminação escura que caracteriza muitos filmes de máfia, “Donnie Brasco” adota uma paleta de cores vibrantes e uma iluminação mais clara. Essa escolha visa destacar as emoções dos personagens e conferir ao filme uma energia distinta. A ênfase em closes faciais busca realçar a importância das emoções de cada personagem. Apesar de sua luminosidade, o diretor de fotografia Peter Sova habilmente cria jogos de sombras e luz para infundir tensão e estresse na narrativa.

O filme utiliza tons de marrom, cinza e preto para sublinhar a ambiguidade moral de seus personagens, criando uma atmosfera única e singular dentro do gênero de filmes de máfia. “Donnie Brasco” recebeu uma indicação ao Oscar na categoria de melhor roteiro adaptado.

Com seu enredo envolvente e atuações magistrais, “Donnie Brasco” não apenas subverte os estereótipos dos filmes de máfia, mas também mergulha profundamente nas complexidades da lealdade, da traição e das identidades em conflito. Johnny Depp e Al Pacino entregam performances memoráveis, destacando-se na construção de personagens que transcendem as caricaturas comumente associadas ao gênero. A dinâmica de poder em constante evolução e a paranoia crescente mantêm o público na borda de seus assentos. “Donnie Brasco” é uma joia única no cenário dos filmes de máfia, onde a trama complexa e as interpretações brilhantes provam ser inesquecíveis.


Filme: Donnie Brasco
Direção: Mike Newell
Ano: 1997
Gênero: Policial/Crime
Nota: 9/10