O filme para maiores de 18 anos que fez o diretor ser jurado de morte está na Netflix Divulgação / Netflix

O filme para maiores de 18 anos que fez o diretor ser jurado de morte está na Netflix

A situação das mulheres nos países islâmicos frequentemente aponta para um cenário de severa repressão. No Irã, onde uma teocracia se estabeleceu há mais de quatro décadas com a queda do xá Reza Pahlavi em fevereiro de 1979, mulheres enfrentam uma vigilância constante que inclui até a inspeção do hijab, exemplificado tragicamente pelo caso de Mahsa Amini. A jovem, que quase completava 23 anos, faleceu após ser presa por usar o lenço de forma inadequada, expondo sua franja.

Esse evento brutal não foi ignorado, mesmo dentro do território marcado pela intolerância instaurada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini e hoje governado por Ali Khamenei e Ebrahim Raisi. No entanto, esse cenário sombrio e opressor persiste, especialmente para as mulheres, na região que outrora abrigou Avicena, a quem se refere como o Príncipe das Ciências. O filme “Holy Spider”, de Ali Abbasi, revela com uma abordagem crua esse padrão de feminicídio que se tornou comum, resultado de um desdém profundo pela autonomia feminina, frequentemente alvo do fundamentalismo islâmico.

Ali Abbasi, junto a Afshin Kamran Bahrami e Jonas Wagner, narra em 2000 a controvérsia em Mashhad, nordeste iraniano, onde um serial killer visava prostitutas. O enredo se desdobra enquanto os espectadores são introduzidos à complexidade dos eventos. Arezoo Rahimi, uma jornalista independente, luta para publicar o que poderia ser a reportagem de sua vida, enfrentando obstáculos aparentemente simples, como a permissão para se hospedar em um hotel em Teerã.

Em uma série de eventos que remetem ao absurdo kafkiano, Rahimi navega pelos obstáculos burocráticos em Mashhad, encontrando resistência particularmente dos homens com quem cruza, incluindo policiais cuja integridade é questionável. Essas interações são destacadas pelas performances cativantes de Zar Amir Ebrahimi e pela direção incisiva de Abbasi.

O filme é pontuado por cenas chocantes de Saeed, interpretado por Mehdi Bajestani, atraindo prostitutas para seu apartamento desabitado, onde se revela como um homem familiar que se transforma em um predador, estrangulando suas vítimas com um hijab, numa ironia amarga que Abbasi usa para comentar a opressão ideológica prevalente no Irã. A sequência final do filme, particularmente perturbadora, sugere que essa brutalidade é uma doença que se perpetua de geração em geração, enraizada profundamente na cultura.


Filme: Holy Spider
Direção: Ali Abbasi
Ano: 2022
Gêneros: Crime/Thriller
Nota: 9/10