Tire 15 minutos do seu dia para assistir esse filme inteligente e cativante na Netflix Divulgação / Netflix

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A antologia de curtas-metragens de Wes Anderson em torno de contos de Roald Dahl, por mais que abordem temas mais adultos, sensíveis e sombrios, ainda ganham tom infantil e ingênuo nas mãos do cineasta. É algo em sua estética lúdica, que simula cenários de teatros infantis, personagens curiosos e caricatos, fotografia colorida e pitoresca. A forma de abordar a narrativa também remete à infância, independente se foi ou não a intenção de Anderson. Há algo didático e lúdico, como uma contação de histórias, em dizer quando um ou outro personagem está falando, imitar vozes etc. Quebrar a quarta parede também tem um quê de Vila Sésamo nesses curtas. Há uma cena, em “O Caçador de Ratos”, que obriga o espectador a imaginar que o personagem de Ralph Fiennes, que é o próprio caçador, segura dois roedores em suas mãos. Ele não tem absolutamente nada nelas. Os animais são invisíveis. Fica ao encargo do público visualizar o que há ali.

Talvez neste, mais que nos outros três, exista um tom satírico, traquinas e sugestivo, que incite o espectador a usar sua imaginação como em um livro. Em “Veneno” o diretor também provoca o público: é preciso ver parar crer? Quando lemos um livro, quase nunca temos as imagens prontas, precisamos criá-las em nossa mente de acordo com as descrições que o autor nos dá. Você pode não gostar do estilo de Wes Anderson, mas neste curta-metragem ele pressiona um pouco mais nosso cérebro. Não necessariamente com enigmas e testes de inteligência, mas instigando nossa imaginação, criatividade… e fé. A estética da coleção de curtas tenta entrar em consonância com as ilustrações de Quentin Blake, que estampou 18 obras de Dahl, e ainda integra animação em stop-motion.

No enredo, Fiennes encarna uma figura sinistra e misteriosa, um matador de roedores enviado pela Vigilância Sanitária para acabar com uma infestação de ratos em um depósito local de feno. Ele se encontra com um repórter (Richard Ayoade), que é basicamente quem narra toda a história, e um mecânico (Rupert Friend). Os dois acompanham o exterminador de roedores durante sua ação.

Com olhos marrons avermelhados, nariz empinado e dentões afiados, o matador de ratos se assemelha exatamente como um roedor. Nós o enxergamos de forma assustadora e grotesca, o rejeitando assim como rejeitaríamos um rato. Quando finalmente Anderson nos permite ver um rato de verdade, ele é dócil, educado e amável. Nada como a imagem medonha de seu algoz. Ele só quer sobreviver em um mundo hostil e nunca quis, na realidade, incomodar. A história traça um paradoxo entre os ratos e os excluídos socialmente, seja por sua classe social, sua aparência, sua sexualidade, etnia, enfim, qualquer razão que o torne um pária. Quando alguém se sente rejeitado, acaba se escondendo, vivendo às sombras, com medo de ser perseguido e aniquilado, como um rato.

O curta-metragem, assim como as outras histórias de Dahl, quer argumentar com seus interlocutores. Felizmente, a perspicácia e idiossincrasia de Anderson formaram a combinação perfeita com a narrativa excêntrica e criativa do autor. Os curtas são obras realmente charmosas, intrigantes, adoráveis e, ao mesmo tempo, estranhamente assustadoras.


Filme: O Caçador de Ratos
Direção: Wes Anderson
Ano: 2023
Gênero: Comédia/Suspense
Nota: 10