O filme mais visto da Netflix em todo mundo, na atualidade Emilio Pareda / Netflix

O filme mais visto da Netflix em todo mundo, na atualidade

Minutos antes do fim de “Destinos à Deriva”, a protagonista, Mia (Anna Castillo), conversa com sua bebê: “Ninguém vai acreditar quando contarmos o que vivemos, mas nós saberemos”. Nesta altura do filme, ainda não temos conhecimento do destino final dela e de sua filha, Noa. Afinal, elas estão à deriva no mar. Tudo pode acontecer a qualquer segundo. O filme de Albert Pintó, com roteiro de Indiana Lista, Ernest Riera e Seanne Winslow, é um dos mais impactantes do ano, porque vemos notícias diárias sobre refugiados que tentam fugir das garras de governos ditatoriais e acabam perdidos no meio do oceano.

Mia é uma grávida que escapa com seu marido, Nico (Tamar Novas), de um lugar não identificado e em uma época não muito clara, de um país que vive sob um regime totalitário. Depois de um começo de viagem clandestina arriscado e cheio de confusões para fora do país, ela e Nico acabam separados à força. Ele vai parar em outro contêiner, enquanto ela é a única sobrevivente de sua própria unidade, depois que soldados descobrem que o contentor transportava ilegalmente dezenas de mulheres e crianças para outro território. Mia demonstra, desde o princípio, um instinto afiado de sobrevivência, porque é a única dentre as passageiras que se esconde a tempo de não ser atingida pelos disparos dos militares.

Em um piscar de olhos, seu contêiner está no meio do oceano e com alguns buracos de bala, que o fazem submergir lenta e gradualmente. Com alguns poucos itens de sobrevivência ao seu alcance, Mia luta para se manter viva até que o marido consiga resgatá-la. Eles conseguem alguns contatos por celular, mas não demora até que ela perca o sinal ou seu telefone estrague o touch impossibilitando-a de manuseá-lo.

Mas a viagem, que já começou caótica, fica ainda pior quando Mia, trancafiada no contêiner esburacado em alto-mar, se depara com uma tempestade e ainda entra em trabalho de parto sozinha. Noa, nomeada gentilmente em homenagem à avó, também é uma versão feminina do Noé bíblico, que sobrevive em uma arca quando o mundo acaba em água. Ela também é a versão viva e mais comovente de Wilson, a bola de vôlei que faz companhia para Chuck Noland (Tom Hanks) durante seus quatro anos na ilha deserta de “Náufrago”.

É a partir do momento em que Noa nasce que Mia se vê impulsionada a criar soluções inteligentes e criativas para sobreviver. Isso, porque agora ela não apenas precisa sair dali viva, mas também salvar sua filha. Enquanto usa todas as ferramentas e objetos que tem ao seu alcance, Mia nos faz refletir sobre como nós mesmos reagiríamos diante da mesma situação. Nos entregaríamos à morte ou lutaríamos até o fim? O que seríamos capazes de fazer e até onde seríamos capazes de ir?

Anna Castillo carrega o filme em suas costas e entrega uma performance irresistível. Ela é intensa, deliberada, ela vai até o limite. A atriz consegue nos fazer acreditar em sua história, mesmo que algumas deciões e ideias do script pareçam demasiadamente forçadas ou bobas. “Destinos à Deriva” transita entre a claustrofobia e a talassofobia, ora colocando a protagonista aprisionada em um pequeno espaço e prestes a ser esmagada pelo peso do oceano, ora a deixando completamente desprotegida com sua bebê em alto-mar, perdida na imensidão das águas e à mercê de criaturas gigantescas, mortais e desconhecidas.


Filme: Destinos à Deriva
Direção: Albert Pintó
Ano: 2023
Gênero: Drama/Suspense
Nota: 8/10