A queda do corpo: entre Tolstói e Kafka, duas imagens do fim

A queda do corpo: entre Tolstói e Kafka, duas imagens do fim

A literatura muitas vezes encontra na dor um espelho profundo da existência. Em Tolstói e Kafka, o colapso do corpo revela mais do que sofrimento: expõe a fragilidade do ser. Esses dois autores não escrevem sobre a morte — escrevem sobre o abandono, o absurdo e a perda do sentido. Seus personagens vivem a transformação do cotidiano em agonia silenciosa. Neste ensaio, exploramos como esses mestres traduziram o fim em linguagem bruta e inesquecível.

Baseado em livro vencedor do Pulitzer, um dos filmes mais perturbadores de todos os tempos está no Prime Video Divulgação / 2929 Productions

Baseado em livro vencedor do Pulitzer, um dos filmes mais perturbadores de todos os tempos está no Prime Video

Não conheço a literatura de Cormac McCarthy (1933-2023) o suficiente, mas “A Estrada” é um belo trabalho de composição estética, que leitores e não leitores de McCarthy identificam logo. John Hillcoat mantém o espírito saborosamente niilista do romance distópico de mesmo título publicado em 2006, traduzindo a prosa do escritor nas imagens avassaladoras que atestam sua desilusão no gênero humano.

Comédia impagável baseada em best seller de Julie Murphy, com Jennifer Aniston, na Netflix Bob Mahoney / Netflix

Comédia impagável baseada em best seller de Julie Murphy, com Jennifer Aniston, na Netflix

À primeira vista, “Dumplin’” poderia ser confundido com uma comédia adolescente típica, embalada por baladas country de Dolly Parton e temperada com doses moderadas de autoconfiança. No entanto, por trás da maquiagem leve e da trilha sonora nostálgica, o filme camufla tensões mais complexas: o luto silenciado, a insatisfação herdada entre gerações e a frágil construção da própria imagem diante de um espelho que nunca reflete por inteiro.

Ethan Hawke encarna um dos vilões mais macabros e diabólicos do cinema em terror de Scott Derrickson, na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Ethan Hawke encarna um dos vilões mais macabros e diabólicos do cinema em terror de Scott Derrickson, na Netflix

Ambientado nos subúrbios de Denver, no Colorado, em 1978, “O Telefone Preto” caminha sobre um terreno instável, onde o terror não vem apenas de um sequestrador mascarado, mas de uma realidade doméstica que já é, por si só, um cárcere. Finney e Gwen, irmãos ligados por um afeto resiliente, vivem sob o jugo de um pai alcoólatra e instável, cuja presença oscilante entre apatia e fúria serve de pano de fundo para o desaparecimento de Finney.

A história mais linda e mais triste de amor, da literatura e do cinema, na Netflix Divulgação / Focus Features

A história mais linda e mais triste de amor, da literatura e do cinema, na Netflix

A redenção, em “Desejo e Reparação”, não é uma meta possível. É uma ficção tardia, formulada quando já não há nada a reparar. O filme, sob direção de Joe Wright, constrói um labirinto de arrependimento em que o tempo não apaga, apenas acentua o estrago. A personagem central, Briony Tallis, não é apenas a catalisadora da tragédia que atravessa o enredo: ela é a narradora que tenta, ao longo de uma vida inteira, reescrever os próprios erros por meio da linguagem.