Autor: Marcelo Costa

Julio Cortázar é idolatrado por leitores que fingem gostar do que não entendem

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De repente ficou óbvio, naquela roda de conversa sobre livros, que quase ninguém ali realmente entendia do que estava falando. Citavam trechos, referências cruzadas, páginas avulsas como cartas de baralho jogadas sobre a mesa, e alguém mencionou Cortázar, assim, sem aviso, e a conversa mudou de tom como se tivessem tocado num ponto sagrado. Cortázar virou aquilo, um santo literário estranho, desses que não se questiona nunca, porque questionar Cortázar é mostrar que você talvez não seja inteligente o suficiente para entrar no clube secreto dos leitores sérios. E no fundo, ele pensa agora, ninguém entendia nada mesmo.

4 livros brasileiros que qualquer IA escreveria melhor

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Há livros que fazem a gente questionar se ainda há um revisor vivo por perto. E outros, piores, que nos fazem duvidar se o autor estava. Nestes quatro títulos, o problema não é a história — é a execução que tropeça, derrapa e se arrasta, como se a literatura fosse uma planilha mal preenchida. Em tempos de algoritmos cada vez mais sensíveis, qualquer IA decente teria poupado o leitor de tantos soluços narrativos. Não é exagero. É desabafo com pontuação.

O romance brasileiro que trata o leitor como idiota e ainda espera ser chamado de genial

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A janela aberta deixa entrar um cheiro de cidade úmida, algo de concreto e chuva atrasada; na mesa ao lado da poltrona velha, o livro ainda aberto, um marcador esquecido como promessa não cumprida; nenhuma luz acesa além da luminária, que lança sombras sobre o papel e faz parecer profunda uma história rasa; e assim, naquela quase madrugada que não se decide em chegar, alguém insiste na leitura, insistência que não nasce do prazer, mas talvez da obrigação inexplicada, como se parar fosse um fracasso, mas continuar fosse ainda pior, fosse aceitar um insulto silencioso, uma zombaria que vem de dentro das próprias páginas.

O livro mais vendido de 2025 no Brasil é tão ruim que virou fenômeno

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Na vitrine do aeroporto, ao lado de uma garrafa térmica e um romance com Paris no título, ela estava ali. O rosto não muito definido, os olhos entre tímidos e oblíquos, talvez culpa da luz da capa plastificada ou do efeito colateral de tantos filtros aplicados à mesma personagem até que ela perdesse qualquer traço de verdade. Alguém com uniforme de governanta e alma de detetive, como se a ficção já não exigisse mais nem que os clichês se escondessem. O livro mais vendido do ano é sobre ela, ou contra ela, ou nada disso. Ninguém sabe. Nem importa.

O livro que vendeu 1,5 milhão de cópias na semana de estreia e se tornou o maior fenômeno editorial de 2025

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Ninguém percebe quando o barulho começa. Ele não soa, ele cresce. Como um zumbido que primeiro parece estar do lado de fora, mas aos poucos entra pelos ouvidos, infiltra-se pela língua e cola no céu da boca. “Amanhecer na Colheita” chegou assim. Não como um livro. Como um evento. Um gesto de marketing que virou produto, que virou notícia, que virou fenômeno, que virou sombra. Um livro que não se lê exatamente, mas se consome. Como cereal de sábado de manhã ou a décima temporada de algo que a gente nem lembra por que começou. Você abre as primeiras páginas e já não está mais sozinho, está dentro do maquinário. Tudo já foi decidido antes da primeira linha.