O último pedaço de terra do mundo

O último pedaço de terra do mundo

A casa onde moro era pouco mais do que um amontoado de ripas sobre um alicerce bem-fundado quando a vizinha D., que sempre olhava pela janela e de vez em quando esboçava um sorriso quando vínhamos visitar terreno, fundação e, depois, início das obras, arriscou romper o distanciamento social europeu. O protocolar cumprimento de todas as vezes acabou virando um esboço de diálogo, com as perguntas que sempremente aguçam a curiosidade dos locais: de onde são vocês, por que se mudaram para cá, já falam esloveno, com o que trabalham, quanto tempo pretendem ficar.

Críticos detonaram, mas o Brasil colocou esse filme alemão no topo da Netflix Divulgação / Netflix

Críticos detonaram, mas o Brasil colocou esse filme alemão no topo da Netflix

O grupo embarca em uma empreitada de sobrevivência enquanto tenta descobrir o que está acontecendo e como sair do prédio. As revelações são dadas ao espectador à medida que os próprios personagens vão encontrando as respostas. Entre os questionamentos que surgem estão: o dono do edifício está aprisionando todos para assisti-los lutar até a morte? Os personagens estão presos em uma Matrix e precisam se libertar de uma armadilha virtual? Eles serão todos mortos em uma espécie de jogo, como em “Round 6”? Quem está por trás disso tudo?

4 filmes na Netflix que vão fazer você querer ficar em casa só para assistir Divulgação / Universal Pictures

4 filmes na Netflix que vão fazer você querer ficar em casa só para assistir

Quatro filmes disponíveis na Netflix propõem, sem alarde, um mergulho delicado e devastador nas contradições humanas. Não se trata de entretenimento leve nem de catarse imediata — são histórias que, cada uma à sua maneira, exigem silêncio ao redor, cadeira firme e talvez um cobertor por perto. De perdas irrecuperáveis a brilhos de genialidade corroída, são narrativas que empurram o espectador para dentro — da própria sala, do próprio corpo, da própria memória. Talvez seja essa a graça: não há fuga, só o risco de sentir.

O filme que virou lenda ao faturar 31 vezes seu orçamento está de volta na Netflix Divulgação / Polygram Entertainment

O filme que virou lenda ao faturar 31 vezes seu orçamento está de volta na Netflix

Em “Fragmentado”, M. Night Shyamalan desafia as fronteiras entre loucura, identidade e sobrevivência ao narrar o sequestro de três jovens por um homem que abriga 23 personalidades distintas. Com direção precisa, atmosfera opressiva e uma atuação visceral de James McAvoy, o filme mergulha no terror psicológico com inteligência brutal, tensionando os limites da empatia, do medo e da sanidade. É um retorno audacioso de Shyamalan ao controle absoluto do suspense.

A série que você não viu porque o algoritmo não mostrou — e é melhor que as mais famosas Divulgação. /Netflix

A série que você não viu porque o algoritmo não mostrou — e é melhor que as mais famosas

Séries policiais não morrem, elas se repetem. E é justamente nesse labirinto de fórmulas recicladas que “Departamento Q” abre caminho não com alarde, mas com um desconforto necessário. A série não se apressa em conquistar: ela inquieta, observa e constrói seus silêncios como quem ergue muros, não para afastar o espectador, mas para selecionar os que têm coragem de escalar. Nada aqui é gratuito. Nem a paleta esverdeada que evoca a decomposição de um sistema corroído por omissões, nem o cenário grotesco de um banheiro desativado onde funcionam as investigações, metáfora pungente para aquilo que o Estado preferiu descartar, mas que ainda pulsa e exige ser reexaminado.