Adélia Prado faz 90 anos. A palavra é mais forte que o poder Foto / Nana Moraes

Adélia Prado faz 90 anos. A palavra é mais forte que o poder

Divinópolis, 1950. Chove. Os trilhos da Oeste de Minas reluzem quando o relâmpago abre a noite; o rádio chia notícias do pós-guerra, gols ainda por vir, promessas de um país em marcha. A missa segue em latim, o fogão a lenha dita o ritmo da cozinha, a cidade cresce entre metal e tecido, e uma casa respira trabalho, fé, fome de futuro. É o ano em que o Brasil perde uma Copa e ela perde a mãe. O pires tilinta, o orvalho pendura pérolas na couve, a cantiga antiga insiste. A menina escuta. Puxa o ar que falta e escreve. O verso inaugural rompe o silêncio e dá borda à dor.

Prêmio do Júri em Cannes: o faroeste brasileiro que acaba de chegar à Netflix Divulgação / Globo Filmes

Prêmio do Júri em Cannes: o faroeste brasileiro que acaba de chegar à Netflix

Em “Bacurau”, lançado em 2019, o sertão de Pernambuco vira cenário de um faroeste de futuro próximo: depois da morte de uma matriarca, o povoado descobre que deixou de existir nos mapas e que as mortes começam a se somar. Sem se apoiar em autoridades ou em explicações confortáveis, a comunidade precisa decidir como permanecer de pé diante de um adversário que atua no escuro. Codirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, o filme recebeu o Prêmio do Júri em Cannes.

Uma comédia para rir, relaxar e esquecer os boletos: Anne Hathaway protagoniza o filme perfeito para o fim de semana Divulgação / Metro-Goldwyn-Mayer

Uma comédia para rir, relaxar e esquecer os boletos: Anne Hathaway protagoniza o filme perfeito para o fim de semana

“As Trapaceiras” é uma comédia dinâmica sobre um assunto velho como o mundo. Combustível para planos improvisados, a rivalidade entre duas golpistas que tentam enganar uma à outra dá azo a situações absurdas que desdobram-se com ritmo. Elaboradíssimas, essas artimanhas enredam também o público, que não sabe quem manipula quem. Chris Addison não faz exatamente uma sátira ao gênero, mas resta claro o propósito de criticar uma certa infantilização das mulheres, cenário de que as personagens-título fazem bom proveito.

Influenciado por John Carpenter, Bacurau leva o faroeste para o sertão e para a Netflix Divulgação / Globo Filmes

Influenciado por John Carpenter, Bacurau leva o faroeste para o sertão e para a Netflix

“Bacurau” parte de um gesto simples e perturbador: uma vila do sertão pernambucano deixa de existir nos mapas. Não como metáfora abstrata, mas como dado concreto da narrativa. A história acompanha Bacurau, um povoado pequeno, isolado, castigado pela falta de água e pela negligência política, que passa a sofrer eventos estranhos após a chegada de estrangeiros.

Baseado em clássico de Clarice Lispector, drama brasileiro com Fernanda Montenegro é joia rara na Netflix Divulgação / Raíz Produções Cinematográficas

Baseado em clássico de Clarice Lispector, drama brasileiro com Fernanda Montenegro é joia rara na Netflix

“A Hora da Estrela” não se esforça para ser agradável. Desde os primeiros minutos, Macabéa ocupa a tela como um corpo deslocado, quase um erro estatístico no Rio de Janeiro urbano e industrial. Vivida por Marcélia Cartaxo com uma entrega desconcertante, ela trabalha como datilógrafa, come mal, dorme pior e atravessa a cidade como quem pede desculpa por existir. Não há glamour, nem alívio estético.