O romance da Netflix mais assistido de 2024 Divulgação / Netflix

O romance da Netflix mais assistido de 2024

Diga-se o que se quiser, mas Hollywood dispõe de poucos quadros tão talentosos e comprometidos com a arte de sacrificar a própria intimidade em nome do espetáculo quanto Lindsay Lohan. Depois de um hiato insuportavelmente moroso para os fãs e para si mesma, Lohan, um ex-ídolo adolescente do começo dos anos 2000, vem conseguindo recobrar o sucesso que a catapultou para a fama e a fortuna, acelerado depois do fenômeno “Meninas Malvadas” (2004), dirigido por Mark Waters, no limbo até 2024, quando Samantha Jayne e Arturo Perez Jr. resgataram-no, fazendo tornar à vida o que deveria permanecer somente na memória, sintoma da enxurrada de remakes que define uma parte bastante significativa da produção audiovisual hoje.

Depois de esforços convictos de recomeço para uma artista aplicada ao cabo de um processo de autodestruição com as indefectíveis bebedeiras e namoros turbulentos, que não tardaram a respingar também na carreira — casos de “Sorte no Amor” (2006), levado à tela por Donald Petrie, e “Uma Quedinha de Natal” (2022), “Pedido Irlandês” cai como uma luva nas mãos hábeis da atriz, que faz bom uso da afinidade com a diretora Janeen Damian, que conhecera no trabalho anterior. Damian sabe perfeitamente onde sua estrela pode brilhar mais e abusa de cenas nas quais Lohan tem ascendência sobre o bom elenco de coadjuvantes.

Na boca da protagonista, o texto de Kirsten Hansen concentra-se, com muita picardia e alguma leveza, nas revelações de uma editora ambiciosa, que enxerga a grande oportunidade de subir mediante um casamento por conveniência, em que pese saber direitinho estar cometendo dois perigosos erros. Nesse particular, “Pedido Irlandês” assume o risco de emular a ideia central de “O Casamento do Meu Melhor Amigo” (1997), em que P.J. Hogan tira do roteiro cuidadoso de Ronald Bass umas tantas referências à Era de Ouro de Hollywood sem medo de ferir suscetibilidades e faz de seu filme uma últimas comédias românticas inteligentes e autênticas de que se tem notícia. Mas as semelhanças param por aí.

Maddie Kelly é convidada para ser uma das madrinhas de Emma Taylor, uma amiga de infância, prestes a se casar com Paul Kennedy, um escritor medíocre para quem Maddie serve de ghost writer, melhorando bastante as historietas tolas e mal-escritas do chefe. Esse trio de personagens define o eixo do longa, com Lohan, Alexander Vlahos e Elizabeth Tan bem até que o argumento central salta do plano das ideias para a realidade. Sentada no banco mágico sob uma árvore em flor do bosque mais formoso do Condado de Clare, no oeste da Irlanda, Maddie faz um pedido meio leviano à Santa Brígida de Dawn Bradfield e a vida dos três vira de cabeça para baixo, com a diferença de que, para a personagem de Lohan, um príncipe nada encantado desponta no horizonte.

James Thomas, o fotógrafo interpretado por Ed Speleers, vem salvá-la de si mesma — ainda que nenhum dos dois o saiba —, e este sem dúvida é o grande atrativo do que se tem pelo resto dos 93 minutos, com Speleers monopolizando os olhares em vários lances. Em outras palavras, “Pedido Irlandês”, um calemburgo demasiado pueril na tradução ao pé da letra do título original, é como o filme de Hogan, com uma dose a mais do açúcar do realismo mágico. Além de um elenco que veste a camisa.


Filme: Pedido Irlandês
Direção: Janeen Damian
Ano: 2024
Gêneros: Comédia/Romance 
Nota: 7/10