Franquia de ação e mistério mais famosa do cinema chegou à Netflix e vale cada segundo do seu tempo Divulgação / 20th Century Studios

Franquia de ação e mistério mais famosa do cinema chegou à Netflix e vale cada segundo do seu tempo

Que atire a primeira pedra aquele que nunca viu um bocadinho de graça nas histórias de mocinhas e rapazotes tão inexperientes quanto impetuosos, chamados sabe-se lá por que a salvar o mundo das dores inclementes que teimam em assaltar a humanidade de tempos em tempos. Wes Ball, o nome por trás de “Maze Runner”, a franquia baseada nos livros de James Dashner, captura como poucos o espírito que paira livre e sobranceiro sobre espectadores de todas as idades e se traduz em cenas que dosam com equilíbrio quase matemático fogo e gelo, movimento e reflexão, conduzindo a plateia por uma viagem ao centro de questões com as quais cada um já confrontou-se ao longo da vida.

Em “Maze Runner: Correr ou Morrer”, o filme que inaugura a série, um garoto destemido, carismático e, por evidente, obsesso cai do azul numa terra estranha e vai se dando conta de que poderes outrora desconhecidos até de si mesmo afloram a despeito de sua vontade, o único remédio para uma nação presa entre uma gigantesca muralha e os fantasmas da servidão que, contraditoriamente, sustentam-na. O roteiro de T.S. Nowlin, Noah Oppenheim e Grant Pierce Myers verte para a tela boa medida da sensação de alheamento do protagonista, enquanto Ball trata de posicioná-lo nas situações mais absurdas, dando algumas pistas acerca do que pode acontecer nos outros dois capítulos de um enredo quase imprevisível.

Por mais paradoxal que possa soar, distopias se prestam a um alívio para espíritos menos conformados com o caos que reina no mundo desde o princípio dos tempos. A desordem fundamental que perpassa a vida do homem na Terra ainda não alcançou o estado de tétrico refinamento exibido com ostentação em produções de todos os gêneros, o que não quer dizer, definitivamente, que nossa situação seja confortável, ou mesmo admissível.

Se até o presente momento não chegamos ao fundo do poço moral e econômico que nos aguarda e nos atrai, como a serpente que enfeitiça o camundongo e o devora sem ao menos ter de dar o bote, é só porque alguma força superior se compadece de nós, se penaliza dos infelizes já alijados do mínimo de que se necessita para uma existência suportável e permite que sigamos cada qual na sua agonia até que nos colha a morte, única solução para tantos daqueles há muito tomados pelo desalento e pelo desespero. De quando em quando, tudo o que a velha musa canta tem de cessar; nessa hora, passamos a nutrir novos anseios, a nos queixar de outras carências e a roda viva das humanas misérias se perpetua como o esperado.

O diretor joga o personagem central na realidade paralela em que outros garotos tentam não se perder. Thomas, o candidato a messias encarnado por Dylan O’Brien, é mais um que fica intrigado com o enorme labirinto do título, e aos poucos, Ball deixe que a audiência comprove seu talento, também já exposto no enunciado. Na abertura, Thomas se mistura aos demais habitantes da Clareira, os clareanos, mas só passa a significar mesmo alguma coisa para eles no segundo ato, visibilidade que cresce, mas só se define com vigor na continuação. O’Brien sabe esperar.


Filme: Maze Runner: Correr ou Morrer 
Direção: Wes Ball
Ano: 2014
Gêneros: Ficção científica/Ação
Nota: 8/10