Filme na Netflix vai explodir seus níveis de adrenalina e fazer seu coração acelerar até quase sair pela boca Divulgação / Paramount Players

Filme na Netflix vai explodir seus níveis de adrenalina e fazer seu coração acelerar até quase sair pela boca

Cada década tem os filmes de terror que merecem. Houve o tempo dos bonecos endemoninhados, das casas que abrigavam fantasmas malditos, dos palhaços furiosos, mas de uns tempos para cá diretores que levam o gênero a sério, mesmo em sua concepção mais desabridamente comercial, têm se convencido de que o mal, o mal verdadeiro e avassalante, está onde sempre esteve: dentro de cada um, refervendo sob camadas de sentimentos malresolvidos, ideias que se revestem da aura de verdade absoluta especialmente quando toca-se em assuntos de vida ou morte.

Quase todos nós ficamos com a primeira; no entanto, é a ubiquidade mordaz da indesejada das gentes quem nos espreita quase sempre, por mais que nos escondamos, em histórias como “Smile”, na Netflix, protagonizada por um espírito que só consegue resistir graças aos medos e traumas de alguém que deveria já achar banal enfronhar-se no lado sombrio dos outros. Parker Finn faz desfilar um rol de tipos estranhos no ambiente algo bizarro que serve de cenário para uma psiquiatra acossada pelo inimigo oculto e perigoso que a leva a um prazer tétrico. No decorrer de 115 minutos, quem assiste sai tonto do carrossel de emoções que Finn tira de seu roteiro, sem ter certeza sobre se os pesadelo chegou mesmo ao fim.

Cada dia tem uma angústia própria e cada tempo, seus próprios desesperos. Chega um momento em que ou nos comprometemos com as intenções certas, ou perdemos o bonde da vida, que não costuma passar duas vezes pelo mesmo ponto — ao contrário do trem descarrilado que é a morte, que nos colhe sem prévio aviso uma, duas, mil vezes ao longo de uma mesma existência. Exatamente por essa razão é que somos obrigados, frente às verdades acachapantes da vida, a fazer de nossos momentos neste plano uma renovação eterna, um incessante vir a ser, em que nos forçamos — e talvez essa seja a melhor palavra — a encontrar novos meios de agir para cada nova situação que nos impõe viver.

Tomando-se essa premissa como uma regra de ouro, da qual nunca se pode fugir — sob pena de se sofrer consequências ainda mais enérgicas —, a própria vida demanda mudanças pontuais quanto a se entender a morte como o que ela é: um prolongamento da estada no plano físico, ainda que cada uma tenha seu protagonismo tão específico.

Aqui o demônio se apossa da alma de Rose Cotter, que passa a achar natural e até aprazível manter contato estreito com pessoas que testemunharam alguém cometer suicídio. Rose, a personagem de Sosie Bacon, fica sabendo que Laura Weaver, empenhada num doutorado mais e mais confuso, deu entrada no pronto-socorro em que trabalha e a partir de então o diretor-roteirista refina o argumento da loucura, associando-o à violência gratuita e à uma certa obnubilação dos sentidos mais elementares, o que vai nortear o enredo até o fim.

A duvidosa personagem de Bacon compõe com a antimocinha de Caitlin Stasey um micronúcleo um tanto autorreferente, que vai se tornando mais sólido a medida que a doutora Madeline Northcott de Robin Weigert também se estabelece, junto com o colega Morgan Desai, de Kal Penn, e Holly, a irmã vivida por Gillian Zinser. E ninguém jamais sabe ao certo até onde o problema de Rose é só dela.


Filme: Smile
Direção: Parker Finn
Ano: 2022
Gêneros: Terror/Suspense/Mistério
Nota: 8/10