O filme da Netflix que vai restaurar sua fé, acalmar sua alma e te fazer acreditar no impossível Divulgação / Crossroad Distributors

O filme da Netflix que vai restaurar sua fé, acalmar sua alma e te fazer acreditar no impossível

A história do homem é a história de suas guerras. Queira-se ou não, foi por meio de combates armados que conquistamos o que temos. Declarar guerra contra quem quer que seja nunca é uma resolução que se toma da mão para a boca, mas é, em muitas circunstâncias, a única coisa a se fazer para fugir da desonra, que, conforme ensina Winston Churchill (1874-1965), primeiro-ministro do Reino Unido quando da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), se encarniça de um povo que não encampa as causas pelas quais se deve combater.

Por mais perverso que soe, temos que admitir: a guerra fascina, e esse é o problema. Enfrentamentos bélicos são o pano de fundo que reveste “Quarto de Guerra”, uma estranha tentativa de Alex Kendrick quanto a convencer seu público da importância de apostar nos valores cristãos para dirimir questões bastante delicadas, que exigem muito mais que boa vontade, disposição para a busca por harmonia interior, desejo invencível para descer ao coração mais oculto das coisas que só nós conhecemos e a partir daí vencer os inimigos que usurpam nosso reino.

Alex e o irmão Stephen desdobram um roteiro panfletário, que aos poucos vai se tornando uma genuína peça de catequese depois do início meio confuso que envereda por considerações no mínimo discutíveis sobre os obstáculos tão doídos do casamento, um eterno ceder que pode terminar anulando um espírito já condescendente por natureza.

Quase sempre, foi por meio do choque entre forças rivais que a humanidade viu nascer seus grandes heróis, homens e mulheres que se vestiram da aura de personalidade da história graças a um desempenho de coragem memorável ao longo de uma série interminável de batalhas. Assim começa a exposição dos Kendrick a respeito dos descaminhos de um casal, na voz de uma amável senhora do alto dos seus, talvez, setenta e poucos anos, lembrando o falecido companheiro diante de sua sepultura.

Clara Williams, vivida pela charmosa Karen Abercrombie, havia feito uma promessa, revelada no desfecho, e dias mais tarde conhece Elizabeth Jordan, a corretora imbuída de vender a casa de Clara, com a qual desenvolve um laço de amizade que em muito lembra a vida que a personagem de Abercrombie mantinha com o marido, que tombara no Vietnã quatro décadas antes. Aos poucos, o diretor entra no argumento que justifica o longa, e expõe a convivência infeliz de Elizabeth com Tony, com quem é casada há cerca de dez anos, pai de sua filha, Danielle, de Alena Pitts, e que tem lhe despertado uma cornucópia de sentimentos, nenhum ligado ao amor que deveria haver entre duas pessoas que escolhem estar juntas.

No princípio do segundo ato, Kendrick escancara a intimidade de Elizabeth e Tony, com Priscilla C. Shirer e T.C. Stallings em cenas comoventes nas quais seus personagens corajosamente desarmam-se uma frente ao outro. O grande problema do filme é quando Elizabeth passa a se aconselhar com Clara, e ouve dela coisas como “você deve entender seu marido”, sem saber muito bem o porquê das brigas conjugais deles.

É verdade que Elizabeth desviara cinco mil dólares de uma conta conjunta para ajudar o marido desempregado da irmã, “um vadio”, para Tony, mas também é certo que suas decisões, sempre desconsiderando o fato de ter esposa e filha, colocam as duas e a si mesmo em grande apuro de dinheiro. “Quarto de Guerra” funcionaria melhor ou se, conforme se insinua no prólogo, a história tratasse das memórias tristes de uma jovem viúva obrigada a refazer a vida, ou se realmente mirasse Elizabeth e Tony. Aqui, esse triângulo nunca acha o equilíbrio.


Filme: Quarto de Guerra
Direção: Alex Kendrick
Ano: 2015
Gêneros: Drama
Nota: 7/10