Com atuação surpreendente de Michelle Pfeiffer, drama na Netflix é lição de resiliência, fé e força Divulgação / Columbia Pictures

Com atuação surpreendente de Michelle Pfeiffer, drama na Netflix é lição de resiliência, fé e força

Estudo das Nações Unidas sobre drogas e crimes estima que mais de um milhão de crianças e adolescentes desaparecem anualmente no mundo todo, das quais 10% nunca mais são encontradas. No Brasil, os índices apontam cerca de 30 mil crianças e jovens até 17 anos que desaparecem de seus familiares. Já nos Estados Unidos, esse número salta para incríveis 460 mil desaparecimentos anuais, tornando-se um dos lugares do mundo com maior incidência dessa ocorrência. Casos icônicos, como o de Pedrinho, destacam que a realidade pode ser tão ou mais impressionante que a ficção, como também evidenciado no último filme do cineasta belga radicado nos Estados Unidos, Ulu Grosbard, intitulado “Nas Profundezas do Mar Sem Fim”, que narra uma história igualmente surpreendente à de Pedrinho.

Michelle Pfeiffer interpreta Beth, uma fotógrafa que abandonou a profissão para cuidar dos filhos, mas vê seu mundo desabar quando seu filho de três anos desaparece no saguão de um hotel. Situações como essa, embora assustadoras, ocorrem com certa frequência. Portanto, manter os olhos sempre atentos nos filhos é a única alternativa eficiente para garantir a segurança deles. Ben, o garotinho que desapareceu, estava com seu irmão mais velho, Vincent, de sete anos, quando tudo aconteceu. Enlouquecida pela catástrofe que se abateu sobre seu lar, Beth passa muito tempo emocionalmente fragilizada e ausente dos filhos que ficaram, Vincent e Kerry, que era apenas um bebê. O marido, Pat (Treat Williams), acaba assumindo completamente os cuidados com a família, enquanto a esposa não tem condições psicológicas de lidar com sua dor e retornar à normalidade de sua vida.

As investigações policiais para descobrir o paradeiro de Ben são lideradas pela detetive Candy (Whoopi Goldberg), que nunca desiste do caso e passa anos próxima da família, visitando conhecidos e desconhecidos em busca de qualquer prova de que a criança ainda está viva.

Até que, nove anos mais tarde, um novo terremoto abala as estruturas desta família quando um garoto na vizinhança, com as mesmas descrições físicas e idade da simulação da polícia de como Ben ficaria no futuro, surge na porta da casa de Beth, oferecendo-se para aparar o gramado por alguns trocados. Beth fica paralisada com a semelhança entre o garoto, Sam Kiro (Ryan Merriman), e como Ben supostamente seria na atualidade. Ela tira algumas fotos, procura a detetive Candy, que consegue um mandado judicial para levar o garoto para exames de DNA e realizar uma busca e apreensão na casa da família dele.

Sam Kiro, de fato, é Ben. Agora, praticamente um adolescente, ele vive com o pai George (John Kapelos), que desconhece o fato de ele ter sido sequestrado de sua verdadeira família. Ele conheceu e se apaixonou por uma mulher que dizia ser mãe do garoto e que o levou naquele dia fatídico no hotel. Agora, com o filho novamente em seus braços, Beth precisa reencontrar uma forma de fazer a família se adaptar ao retorno do garoto perdido e, ele, se acostumar ao novo lar.

No entanto, as coisas se mostram mais difíceis que o imaginado. A adaptação não é nada fácil. Sam não se reconhece como Ben e sente falta de seu pai, George. Enquanto isso, Vincent sente culpa por ter sido responsável pelo desaparecimento do irmão e a forma como demonstra suas dores é por meio da rebeldia. A família precisa lidar com inúmeros problemas para conseguir se reconectar e superar o passado.

O drama de Ulu Grosbard nos faz questionar o que faríamos se estivéssemos no lugar de Beth, de Pat ou até das crianças. “Nas Profundezas do Mar Sem Fim”, na Netflix, é um exercício de empatia e uma lição de que nem todos os nossos sonhos e desejos, quando se realizam, se realizam da forma como pensávamos.


Filme: Nas Profundezas do Mar Sem Fim
Direção: Ulu Grosbard
Ano: 1999
Gênero: Drama
Nota: 8/10