O filme que Charlize Theron considera sua melhor atuação no cinema está na Netflix e vale cada segundo do seu tempo Phillip V. Caruso / Paramount Pictures

O filme que Charlize Theron considera sua melhor atuação no cinema está na Netflix e vale cada segundo do seu tempo

“Jovens Adultos” (2011), dirigido por Jason Reitman, pinta um retrato sem retoques de Mavis Gary, uma escritora de ficção juvenil que se vê imersa em uma crise de meia-idade precoce. Charlize Theron encarna a protagonista com uma ferocidade bruta, trazendo à tela uma personagem tão complexa quanto falha, que desafia a simpatia do público desde a primeira cena.

O filme desvela a história de Mavis, que retorna à sua cidade natal com um plano aparentemente simples: reconquistar seu amor de juventude, agora um homem casado com filhos. O que se segue é uma série de escolhas questionáveis e um desconforto crescente, tanto para ela quanto para o espectador. Reitman maneja este desconforto com habilidade, criando uma tensão que é mais íntima do que dramática, mais sutil do que escandalosa.

O roteiro de Diablo Cody, que anteriormente havia colaborado com Reitman em “Juno”, aqui toma um caminho mais sombrio. Cody constrói diálogos cortantes e situações recheadas de ironia, onde o humor é tão ácido quanto revelador. Ao contrário do otimismo quase adolescente de “Juno”, “Jovens Adultos” propõe um olhar crítico sobre a estagnação emocional, oferecendo um estudo de personagem que evita convenientes arcos de redenção.

A cinematografia, apesar de não ser vanguardista, complementa o tom da narrativa com uma paleta de cores que captura a frieza emocional de Mavis e a esterilidade de seu ambiente. A trilha sonora, por sua vez, não apenas acompanha a jornada da protagonista, mas também serve como um comentário adicional às suas escolhas e estado mental, uma escolha que demonstra a atenção do diretor aos detalhes que agregam camadas à narrativa.

Talvez o ponto mais forte do filme seja a recusa em suavizar a protagonista para torná-la mais palatável. Theron entrega uma atuação que não pede empatia; ao contrário, ela confronta o público com a realidade de uma personagem que não se encaixa nos moldes do que é tradicionalmente esperado de uma heroína. Mavis é desagradável, muitas vezes patética, mas sempre autenticamente humana em sua falibilidade.

No entanto, onde “Jovens Adultos” realmente se destaca é na sua representação da mulher moderna em conflito com as expectativas sociais. Reitman e Cody não oferecem respostas fáceis ou finais felizes. Em vez disso, eles apresentam uma narrativa que questiona a ideia de sucesso e felicidade através de uma lente desiludida, mas nunca cínica.

Em termos de impacto cultural, “Jovens Adultos” pode não ter reverberado tanto quanto outros títulos do mesmo período, mas isso não diminui sua relevância. O filme é um lembrete desconfortável, mas necessário, de que nem todos os caminhos levam ao crescimento pessoal ou à autoaceitação. É um aceno para aqueles momentos da vida que são mais sobre sobreviver do que sobre viver plenamente, e isso, por si só, é uma realização digna de nota.


Filme: Jovens Adultos
Direção: Jason Reitman
Ano: 2011
Gêneros: Comédia/Thriller
Nota: 9/10