A história de amor adorável na Netflix que vai melhorar seu dia Divulgação / Traziende Films

A história de amor adorável na Netflix que vai melhorar seu dia

Não há desafio que um pai não encare por sua prole, tanto mais se for um homem sozinho, que não pode contar com a ajuda da mulher que amava para seguir educando seus rebentos. Essa é a premissa inicial de “Visto para o Amor”, a história meio unidimensional de alguém disposto a sacrificar-se em nome de seu verdadeiro grande amor até que não reste quase nada de si, ainda que no fundo no poço sempre fique uma gota de esperança.

Pedro Pablo Ibarra garante momentos de diversão e sentimentos à flor da pele ao retratar o drama de um mariachi talentoso, mas pobre, tentando mandar para os Estados Unidos a filha, na intenção de evitar que a garota passe pelas dificuldades que cercam-no hoje.

Aos poucos, os roteiristas Georgina Garcia Riedel, Issa López e Gabriel Ripstein deixam claro que esse não é o maior dos problemas de seu anti-herói, remoendo a morte prematura da esposa há nove anos, e torturado pela invencível ligação dessa tragédia à súbita paralisia da carreira, que não resiste a tamanho choque, malgrado ele continue a se apresentar nas praças e para plateias tão sensíveis quanto podem ser as que lotam restaurantes de comida típica. Por paradoxo que soe, esse é o início da mudança que tem perseguido com uma fé insana, depois de um turbilhão que quase põe tudo a perder. E nisso ele tem muita culpa.

Alejandro agarra-se com força à obsessão de que María, a filha interpretada com nítido empenho pela adorável Renata Ybarra, vá morar com os pais da falecida esposa acima da fronteira com o rio Grande. Para isso, necessita, claro, que a embaixada americana autentique a permissão para que ele e a criança ingressem no país vizinho, e desse ponto se levanta o enredo.

O músico levara consigo uma pilha de documentos, apesar de não ter conseguido um mísero papel que dirimisse questionamentos sobre sua colocação profissional ou comprovasse que tem residência fixa na Cidade do México, e isso já é o bastante para Rachel, a agente da imigração que o atende, negue a licença. O diretor contrapõe a sucessão de fracassos de Alejandro à subida de Rachel, constante e merecida.

Ela está a duas semanas de assumir um posto mais elevado na burocracia da repartição, agora em Londres, e antes de sua transferência, Carolina, a personagem de Aurora Papile, organiza um bota-fora com direito a muitas doses de tequila e… um show de mariachis.

Esses dois universos paralelos encontram-se num bar e depois da farra, Rachel está bêbada, jogada num ponto de ônibus. Essa é a deixa para que Alejandro se aproxime e ofereça solidariedade à primeira vista desinteressada, levando a moça para sua casa, sem nenhuma intenção obscura.

Na manhã seguinte, acordada por María de um jeito nada convencional, Rachel tem um ataque histérico ao se dar conta que passou a noite no apartamento de um estranho, pânico logo substituído pelo desespero de supor que perdera o laptop carregado com dados confidenciais que Arthur, o chefe, de Tom Arnold, lhe havia confiado. Jaime Camil e Laura Ramsey jogam uma bola redonda, evidenciando cada vez mais as inequívocas diferenças entre seus personagens, cujas posições Ibarra troca numa manobra rápida e fazendo com que o espectador manifeste sua preferência por um dos dois lados.

O tal laptop sempre estivera no apartamento, mas num impulso indefensável, Alejandro esconde o dispositivo, para depois fingir recuperá-lo, com a ajuda de Carlos Nicanor Castro, nome meio pomposo do músico Canicas, com Omar Chaparro num respiro cômico que dá andamento mais fluido à trama.

O diretor reserva o terceiro ato para a farsa de Alejandro, até que a gangue liderada por Hapi, o agiota de Roberto Sosa, revira a casa do mariachi e carrega o laptop, forçando-o a pagar os vinte mil pesos que lhe deve. Ninguém se admira que Rachel — às voltas com outro acerto de contas, o que irá definir sua relação com a mãe, Virginia, de Stockard Channing, superprotetora e arbitrária — descubra tudo. 

Entretanto, a graça de “Visto para o Amor” é imaginar que duas almas tão essencialmente opostas possam se apaixonar como Camil e Ramsey fazem-nos crer. E ao som de maracas!


Filme: Visto para o Amor
Direção: Pedro Pablo Ibarra
Ano: 2013
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 8/10