Indicado ao Oscar por atuação extraordinária de Edward Norton, filmaço no Prime Video é uma das histórias mais brutais do cinema Divulgação / New Line Cinema

Indicado ao Oscar por atuação extraordinária de Edward Norton, filmaço no Prime Video é uma das histórias mais brutais do cinema

David McKenna estreou no cinema com um roteiro incrível, o de “A Outra História Americana”, dirigido por Tony Kaye. Depois disso, o único filme no qual McKenna se destacou foi “Profissão de Risco”. Para Edward Norton, no entanto, foi apenas o início de uma carreira brilhante.

Seu primeiro papel foi em “Todos Dizem Eu Te Amo”, de Woody Allen, em 1996. Simultaneamente, ele estrelou em “As Duas Faces de Um Crime”, ao lado de Richard Gere. Até então, ele era um completo desconhecido. Mas sua atuação incrível no suspense de Gregory Hoblit fez todo mundo se perguntar: “Quem é este garoto?”. No ano em que Edward Norton estreou nos cinemas, ele também recebeu sua primeira indicação ao Oscar. Depois disso, vieram mais duas indicações, e uma delas foi de melhor ator por “A Outra História Americana”.

Nos anos seguintes a este filme, ele seguiu uma trajetória profissional incrível, pulando de obra aclamada para outra. “O Povo Contra Larry Flint” (1998), “Clube da Luta” (1999), “Frida” (2002), “Dragão Vermelho” (2002), “A Última Noite” (2002), “Uma Saída de Mestre” (2003) e por aí vai.

Em “A Outra História Americana”, Edward Norton interpreta Derek Vineyard, um ex-neo-nazista que acaba de sair da prisão após uma sentença de três anos por homicídio culposo. Ele assassinou três homens negros tentaram roubar sua caminhonete. No entanto, as mortes não foram exatamente legítima defesa. Derek não corria risco de morte. Ele dominou facilmente a situação e foi cruel intencionalmente. Ele assassinou aqueles homens por conta de sua cor de pele.

As cenas de flashback, em que Tony Kaye quer nos mostrar as lembranças de Derek, o filme assume coloração cinza, mas bastante contrastada. Os tons de branco são bastante claros. Os de preto, são bem escuros, acentuando o antagonismo das cores.

Derek é um jovem bem confiante, cheio de convicções, com um discurso de ódio afiado e zero empatia por minorias. O pai dele, um bombeiro, foi morto por um homem negro, fomentando o ódio de Derek que já florescia dentro de sua alma por pessoas de cor e dando vazão para todos os seus discursos sobre como os imigrantes ilegais roubam os empregos dos verdadeiros americanos, sobre como os negros e hispânicos espalham doenças, como HIV, e são maioria nas cadeias, porque são propensos à violência e criminalidade, enquanto os colonizadores europeus, que chegaram à América, eram honestos e trabalhadores.

Após matar os três homens, Derek é preso. Na cadeia, ele se mistura a um grupo de neo-nazistas, mas percebe que eles negociam com outros grupos, como os hispânicos, por drogas e outros favores. Para Derek, que segue à risca os princípios e filosofias, é inaceitável e decepcionante vê-los interagindo e sendo favorecidos pelo “inimigo”. Mas logo suas convicções são colocadas à prova quando ele faz amizade com  Lamont (Guy Torry), um rapaz negro com quem divide a tarefa de separar os lençóis limpos. Lamont foi condenado a seis anos de prisão, acusado por desacato, porque enquanto roubava uma televisão, deixou ela cair no pé do policial que o rendeu. O paradoxo das duas sentenças, a de Derek e a de Lamont, e dos crimes que eles cometeram, é amargo. Quando se é branco, o sistema judiciário pega leve na punição. Quando se é negro, a pena é mais dura.

Ao mesmo tempo, Derek é traído pelos colegas brancos da cadeia. A lição chega para ele de maneira tão sutil quanto um soco no estômago. Em casa, seu irmão caçula, Danny (Edward Furlong), o vê como um herói e tenta seguir seus passos. No entanto, quando Derek retorna para casa com as ideias completamente transformadas, as expectativas de Danny com o irmão serão completamente frustradas.

“A Outra História Americana” é um filme extremamente potente, provocativo e desafiador. É explicitamente violento e a fotografia crua dá a sensação, ainda maior, de crueldade e perigo. A cena da discussão de Derek à mesa de jantar com o namorado de sua mãe, o judeu Murray (Elliott Gould) é hipnotizante e, ao mesmo tempo, desagradável, provoca ansiedade, mau estar. Poucos filmes conseguem transmitir sua mensagem de forma tão dura e intensa quanto este. A linguagem é clara e explícita. O filme é genial. A atuação de Edward Norton é extraordinária.


Filme: A Outra História Americana
Direção: Tony Kaye
Ano: 1997
Gênero: Policial/Drama
Nota: 10