Thriller arrepiante na Netflix vai te deixar com os olhos arregalados e grudados na TV por 84 minutos Divulgação / Brilliant Pictures

Thriller arrepiante na Netflix vai te deixar com os olhos arregalados e grudados na TV por 84 minutos

Parece haver uma irrupção de filmes em que seláquios manifestam sua natureza aniquiladora sem pejo. Espertamente, Marcus Adams se vale de recursos técnicos os mais variados a fim de convencer o público a comprar sua visão de um monstro interoceânico que investe contra seus maiores usurpadores em “Terror nas Profundezas”, um thriller sem muito mais por onde se destacar de todas as muitas outras produções que centra sua força num par de barbatanas e fileiras de dentes implacáveis, prontos a destroçar sem dó — e com justiça — homens e mulheres que ousam interferir em seu reinado nos abismos do mar. Habilidoso, Adams usa os clichês a seu favor, chegando a uma história que consegue mesmo subverter o previsto em lances pontuais, o bastante para pescar a audiência e levar seu filme a um desfecho emocionante.

Na abertura, a fotografia de Mark Silk ressalta o azul turquesa da água e o multicolorido das casas de Nassau. Em 2002, trinta quilômetros a oeste da capital das Bahamas, a ação começa, com o barco em que Naomi, uma garota de oito anos, e o pai afundam depois do que parece uma colisão grave. O pai da menina chama pela guarda costeira, e de imediato o roteiro de Sophia Eptamenitis e Robert Capelli Jr. prima pela sutileza, numa cena que tinha tudo para degringolar num dramalhão sem nenhum sentido. O desempenho supino de Marco Canadea conduz o enredo para a harmonia do segundo ato, enganosa, mas que serve como um providencial respiro narrativo, com Naomi agora mulher feita, ainda na água, mas em circunstâncias muito mais amenas. Passados vinte anos, a personagem, agora na pele de Mãdãlina Ghenea, dá uma aula de mergulho a Barny, o sobrinho interpretado por Ibrahima Gueye, e sem que se note, a parceria dos dois leva quem assiste para um outro terreno. Ghenea, uma sósia de Sophia Loren meio século mais jovem, também é uma espécie de anjo protetor para o personagem de Gueye, revelado em “Rosa e Momo” (2020), dirigido por Edoardo Ponti, filho da diva com o produtor italiano Carlo Ponti (1912-2007). 

Pouco depois dessa insólita brincadeira metalinguística, o diretor faz com que o filme mergulhe de vez no suspense que conserva até o final, não muito bem-resolvido. A entrada em cena de Macarena Gómez como María, a líder de quadrilha de traficantes de cocaína, é, definitivamente, o ponto alto de “Terror nas Profundezas”, explicando a onipresença da heroína de Ghenea e dando sentido a um tropo já surrado. O tubarão? Sim, ele aparece, muito pouco, como o justiceiro acidental que resolve,  a seu modo, os problemas da mocinha. 


Filme: Terror nas Profundezas
Direção: Marcus Adams
Ano: 2023
Gêneros: Mistério/Thriller/Suspense
Nota: 8/10