Engraçado ou assustador? Thriller que dividiu opiniões está na Netflix e não deixa ninguém indiferente Divulgação / SP Media Group

Engraçado ou assustador? Thriller que dividiu opiniões está na Netflix e não deixa ninguém indiferente

Ganhar a vida, fazer dinheiro, sustentar uma família, tudo isso tem um sentido mais ou menos uniforme e deveria ser uma conquista de todos. Quando, porém, o trabalho esconde perigos com os quais nunca se poderia cruzar em outras circunstâncias, fatos particularmente estranhos desabam sobre a cabeça de quem só queria tentar ter menos atribulações, enfrentar menos apuros, subir, degrau por degrau, no seu próprio tempo, sonho distante quando se está sempre do lado oposto ao da sorte. Esse é o caso de Robert Mitchell, o protagonista de “Em Confinamento”, um pai e marido exemplar que só queria concluir o turno, embolsar sua féria e ir para casa, mas é tragado para o centro de eventos absurdos, meio fantásticos, perdendo-se nos desdobramentos de um crime sobre o qual não pode se manifestar. O thriller de L. Gustavo Cooper, pontuado de lances dramáticos, se espraia pela vida desse homem comum, angustiado diante de uma transformação involuntária na sua rotina, até que tudo fica bem mais sombrio.

A todo momento flertando com o nonsense, o roteiro de Jacob D. Wehrman deslinda o cotidiano de Mitchell numa longa introdução, repleta de cenas em que ele e outros operários são mostrados carregando vigas de madeira, carregando caminhões, serrando tábuas e batendo pregos. Aos poucos, o personagem central vai se destacando do grupo, e nesse ponto, Cooper decide por começar a tirar o véu de pretensa serenidade que insiste em cair sobre ele. Henry Thomas confere a ambivalência devida a seu anti-herói, dedicado ao ofício de encanador, mas metido numa rede de bandidagem de cuja influência só vai se inteirar muito depois. Em paralelo, Mitchell consegue perceber a baixeza dos tipos com quem se envolveu meio tarde demais: mesmo sabendo que tem um filho recém-nascido para alimentar, o marido de Carrie, de Olivia Taylor Dudley, não tem a remuneração que lhe é devida. Esse é o gancho de que o diretor se vale para tornar crível a sucessão de violência gratuita a que se assiste a partir do segundo ato, reviravolta orgânica e francamente divertida.

Os embates do protagonista com Sterling e Dooley, os atrapalhados delinquentes vividos por Bradley Stryker e C. Ernst Harth, dão ao filme  a aura de um “Esqueceram de Mim” (1990), a já clássica comédia infantojuvenil dirigida por Chris Columbus, mas para adultos. É impossível não rir das situações engendradas por Mitchell para subjugar os dois criminosos, que sempre levam a pior, até Mitchell colocar a mão em seu punhado de dólares, afinal. 


Filme: Em Confinamento
Direção: L. Gustavo Cooper
Ano: 2022
Gêneros: Thriller/Drama/Comédia
Nota: 8/10