Faça um favor a si mesmo: assista a esse filme adorável, engraçado e de partir o coração, que acabou de chegar à Netflix

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Embora ninguém saiba muito bem por que o amor começa, qualquer um é capaz de elencar um interminável rol de motivos que justifiquem ou ao menos deem alguma explicação sobre seu fim, que em certas ocasiões concorre para outros términos. Por mais que se esteja sempre à mercê das ardilosas trapaças do destino, reconhecer-se apaixonado — e mais: permitir-se se apaixonar — é uma das emoções mais avassaladoras que se tem numa vida longa ou curta demais, feliz ou desditosa, ainda que o ligeiro conforto desse sentimento não vença a angústia que desnorteia ao jogar luz sobre nosso lado de sombras.

O envolvimento romântico de duas pessoas enfrenta provações de toda natureza, às vezes mais duras que a morte, e é por aí que “Retratos de um Amor” quer se mover.

A tailandesa Piyakarn Bootprasert disseca as mágoas e exalta as delícias da paixão e do afeto mais genuíno e refinado, nessa ordem, urdindo com tal expediente compor outro dos tantos alertas que o cinema se atreve a fazer, às vezes com proveito, quase sempre sem grandes consequências além da apreciação de um bom filme.

Mulheres que amam têm superpoderes, diz a narradora na abertura, e quiçá tenham mesmo. Pouco depois que a frase é dita, um homem surge preso às ferragens de um carro, também vermelho, numa estrada deserta. Ele sangra, pode estar à morte, e nessas condições, pensa-se apenas no que é importante, ou seja, no salão de massagens Britney, um prostíbulo no subúrbio de Bangkok. Uma mulher de vestido de lamê fúcsia o acode e improvisa com outras duas moças a dança que abrevia-lhe o martírio.

Bootprasert elabora outras metáforas, tão lúdicas como essa, no transcurso de boa parte dos 135 minutos, fazendo de seu roteiro, escrito com Pongsuang Choop, uma reflexão divertida, mas grave, do valor dos afetos na iminência do fim. Surpresas nem sempre são boas, e por essa razão Meta não perde tempo e dá algumas instruções à filha, Namo, no mesmo dia em que a garota completa quinze anos. Araya A. Hargate e Becky Armstrong dividem a cena nesse contato mais profundo com a essência do que é levado à tela envoltas numa aura de puro entrosamento, até que a garota, depois de obrigada a interromper o jogo no celular, tem vontade de saber do pai.

A diretora investe em sequências delicadas, nas quais narra a jornada em comum de Meta e Sati, o acidentado do princípio do longa e, mais importante, como e por que se separaram. Sunny Suwanmethanont junta-se a Hargate e Armstrong num enredo mais e mais inclinado a desvendar os mistérios da união de Meta e Sati, que embora não possam se amar outra vez não têm de se odiar. E Namo, claro, agradece.


Filme: Retratos de um Amor
Direção: Piyakarn Bootprasert
Ano: 2023
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 8/10