Desligue o cérebro: nova comédia acaba de aterrissar na Netflix Michael Moriatis / Netflix

Desligue o cérebro: nova comédia acaba de aterrissar na Netflix

Bill Burr acaba de lançar seu primeiro filme na Netflix. Ele traz para “Tiozões” suas reflexões sobre como se sente, na casa dos 50, inadequado para o mundo. Bem, seus desabafos pouco engraçados em forma de esquetes nesta produção mostram que ele realmente está completamente descolado da realidade. Uma crítica à geração Awake, que milita o tempo inteiro em defesa de todas as minorias, Burr, na tentativa de ridicularizar os outros, acaba ridicularizando a si próprio, pois retrata ele e seus amigos como homens velhos, imaturos, irresponsáveis e incapazes de qualquer empatia.

Ele interpreta Jack Kelly, um homem de 51 anos que está prestes a ter seu segundo filho. Seu primogênito tem apenas cinco anos e está matriculado em uma escola particular, na qual a diretora, a doutora Lois Schmieckel-Turner (Rachael Harris), é uma mulher bastante influente e pode dar boas referências da criança para as escolas que o conduzirão à Ivy League. A esposa de Jack e mãe do garoto, Leah (Katie Aselton), está bastante preocupada em manter o relacionamento com a diretora inabalável para que seu filho tenha um futuro acadêmico promissor.

No entanto, a doutora Lois Schmieckel-Turner é uma caricatura bizarra e assustadora de uma diretora dessas escolas transdisciplinares da moda, com foco em educação plural e sustentável, contraponto o estilo tradicional e autoritário. Mas como um estereótipo, ela é forçada e panfletária, acuando e expondo Jack sempre que ele se comporta de uma forma que contraria sua metodologia de ensino.

Jack tem problemas para gerenciar sua raiva. Incontrolavelmente explosivo sempre que suas expectativas são frustradas — o que acontece com certa frequência —, sua personalidade faz com seu relacionamento com a esposa entre em colapso. Seus dois melhores amigos e sócios, Connor Brody (Bobby Cannavale) e Mike Richards (Bokeem Woodbine), são igualmente inconsequentes e egoístas e ainda não aceitam que não estão mais em seus 20 anos. Com dificuldades de se adaptar em um mundo no qual não é mais aceitável ser machista, homofóbico e racista, o trio enfrenta um conflito geracional sem precedentes. O mundinho egocêntrico dos três cinquentões parece desabar quando eles descobrem que… PASMEM! Precisam amadurecer.

Fundadores de uma empresa varejista especializada em camisas retrô, o trio vende sua marca para uma start-up cujo CEO tem apenas 28 anos e decide demitir todos os funcionários acima de 35, incluindo o trio de amigos. Desempregados e com novos desafios em seu caminho, Jack, Connor e Mike poderiam aprender lições de amadurecimento, a valorizar suas famílias e a criar responsabilidades. Ao invés disso, eles decidem passar uma noite louca em Las Vegas, apenas para compreender que não podem fugir de seus problemas, embora o fariam, se pudessem.

“Tiozões” há de agradar um grupo bastante específico de pessoas, que se enquadra exatamente nos mesmos padrões sociopolíticos de Burr. A comédia nos faz pensar sobre a relevância dos comediantes de stand-up que fizeram muito sucesso nos anos 1990, mas que se negam a atualizar o estilo e o foco de suas piadas em pleno século 21. Eles ainda se acham donos da razão. O mundo, felizmente, não cabe mais certos tipos de humor.


Filme: Tiozões
Direção: Bill Burr
Ano: 2023
Gênero: Comédia
Nota: 7/10