Obra-prima de Quentin Tarantino, ganhadora de dois Oscars, volta à Netflix Divulgação / Columbia Pictures

Obra-prima de Quentin Tarantino, ganhadora de dois Oscars, volta à Netflix

“Django Livre” destila a tenacidade e determinação com a qual Quentin Tarantino constrói seus filmes. Há uma linha tênue entre o sucesso retumbante e o esquecimento momentâneo; Quentin não só conhece essa linha, mas também faz questão de desafiá-la a cada trabalho. Seus lançamentos anteriores, como o icônico “Cães de Aluguel” (1992), já sinalizavam um desejo profundo de remodelar a cena cinematográfica. Tarantino anseia por desconstruir e reconstruir as narrativas, de maneira que seu trabalho se torna inconfundivelmente seu.

No caso de “Django Livre”, a complexidade da trama é notável. Se, por um lado, remete-nos a lembranças da dinâmica vivenciada em “Os Oito Odiados” (2015) — com personagens díspares trancados em uma coexistência forçada — por outro, traz nuances que enriquecem e distinguem o filme. Jamie Foxx, com seu vigor e comprometimento artístico, nos apresenta a intensidade dolorosa de um homem que carrega as correntes de uma vida em cativeiro e almeja por sua liberdade.

Esse protagonista, com sua força motriz e resiliência, evoca sentimentos profundos nos espectadores. Não é apenas uma história de luta e superação, mas também um lembrete do histórico complexo e multifacetado da sociedade americana. A Guerra Civil dos EUA (1861-1865) é utilizada como pano de fundo, ampliando as camadas do roteiro e trazendo à tona discussões sobre racismo, preconceito e as estruturas econômicas intrinsecamente ligadas à escravidão.

Com uma astúcia sem igual, Tarantino nos conduz por caminhos que revelam os escravos como a engrenagem que manteve a economia viva, e ao mesmo tempo critica a curta visão de uma sociedade que não percebia que a liberdade poderia ser muito mais benéfica, tanto humanamente quanto economicamente. Através desse prisma, a trama se desenrola com vigor e propriedade.

A ousadia de Tarantino é evidente. Em vez de se contentar com narrativas simplistas ou maniqueístas, ele opta por uma abordagem mais desafiadora. Citações históricas, como a de Chica da Silva no Brasil, exemplificam como a escravidão não era uma questão meramente branca contra negra. Havia nuances e complexidades que o filme não teme explorar.

Ao final desta jornada cinematográfica, uma coisa é certa: a mente do espectador está repleta, fervilhando com emoções e reflexões, aguardando ansiosamente a próxima maravilha que Tarantino trará à luz.


Filme: Django Livre
Direção: Quentin Tarantino
Ano: 2012
Gênero: Faroeste/Ação
Nota: 10/10