Apesar de ser um dos maiores fracassos de audiência da Netflix, filme baseado em livro de Don DeLillo é uma pequena obra-prima Wilson Webb / Netflix

Apesar de ser um dos maiores fracassos de audiência da Netflix, filme baseado em livro de Don DeLillo é uma pequena obra-prima

Em “Ruído Branco”, de Noah Baumbach, somos imediatamente envolvidos pela temática da morte e seu impacto nos protagonistas. O diretor, conhecido por sua capacidade única de observar os nuances e contradições da humanidade, retoma sua parceria com Adam Driver, que anteriormente brilhou em “História de um Casamento”. Agora, Driver lidera um enredo saturado de ironias, onde o abismo humano é novamente explorado. Esta nova narrativa, inspirada pela literatura audaz de Don DeLillo, tece um panorama cínico da vida, transitando entre o humor e a gravidade da existência.

A vida, repleta de momentos intensos e significativos, é constantemente marcada por desafios. Estes moldam nossa percepção, dando forma e substância ao nosso cotidiano. No entanto, esses desafios também nos levam a refletir sobre nossa liberdade intrínseca, aquela inerente ao ser humano. Ao falar de liberdade, imediatamente somos remetidos ao conceito ancestral de livre-arbítrio, aquela escolha que pode conduzir a redenção ou ao sofrimento. Esta liberdade se manifesta de várias formas, e é precisamente sua multifacetada natureza que nos encanta, surpreende e, às vezes, nos engana.

Quase quatro décadas atrás, um livro profetizava uma sociedade angustiada, enfrentando desastres industriais que alteravam irreversivelmente o equilíbrio ambiental. No filme, Jack Gladney, interpretado habilmente por Driver, assume a postura de um guardião da família em tempos adversos. Ele busca proteção para sua esposa, Babbette, retratada por Greta Gerwig, e seus filhos, onde Denise, vivida por Raffey Cassidy, age como uma bússola moral para a família. Em uma sociedade desorientada, onde valores essenciais como consciência ecológica e equidade econômica são negligenciados, a figura de Jack destaca-se em sua busca por respostas e proteção, culminando em descobertas perturbadoras sobre sua relação com Babbette e os segredos que os cercam.

No eterno jogo entre vida e morte, nos deparamos com a fragilidade da existência, muitas vezes exacerbada por nossa própria negligência. Esse reconhecimento nos leva a uma reflexão profunda: somos uma minúscula engrenagem em uma imensa máquina cósmica. Em meio a tal panorama, surgem figuras obscuras que se disfarçam de benevolência, mas que, na verdade, anseiam pela vulnerabilidade alheia. É preciso lembrar que somos vulneráveis, mas também somos essenciais para muitos. Portanto, enquanto a humanidade teima em ignorar os clamores da realidade e se afundar em um mar de ilusões, a arte, como o filme de Baumbach, nos desafia a encarar a verdade, a refletir sobre nossos atos e a repensar nosso lugar no mundo.


Filme: Ruído Branco
Direção: Noah Baumbach
Ano: 2022
Gêneros: Drama/Comédia/Aventura
Nota: 9/10