Filme com Jessica Chastain e John Malkovich, na Netflix, vai mantê-lo na ponta do sofá por 96 minutos Divulgação / Voltage Pictures

Filme com Jessica Chastain e John Malkovich, na Netflix, vai mantê-lo na ponta do sofá por 96 minutos

Estar vivo, essa dádiva surpreendente, pode ser um fascinante paradoxo, algo que o filme “Ava” (2020) explora com uma precisão quase cirúrgica. Quando transformamos o pulso vital em algo com etiqueta de preço e uma data marcada para seu encerramento, isso revela desvios profundamente arraigados em nossa jornada enquanto sociedade.

Num mundo onde o combate ao crime assume formas paradoxais, tornando-se, por vezes, criminoso em si, percebemos que a receita para a calamidade está sendo meticulosamente preparada. É um equívoco acreditar que reciprocidade violenta pode ser a resposta para as intrincadas questões que enfrentamos no cotidiano.

Infelizmente, há sempre aqueles que buscam se beneficiar do caos, tirando proveito da desordem em busca de ganho próprio. No filme “Ava” (2020), a protagonista é um fascinante estudo de ambiguidades. Tate Taylor apresenta Ava, com sua elegância letal, como alguém que navega com desenvoltura nas águas turvas da moralidade, brincando com as noções de justiça e diversão de formas que desafiam a sensibilidade do espectador.

No contexto da narrativa, Jessica Chastain, que dá vida a Ava, entrega um desempenho que serve como um contraponto ao seu papel anterior em “A Hora Mais Escura” (2012). Kathryn Bigelow, nesse filme, forneceu um retrato intransigente da busca por Osama Bin Laden. Em contraste, “Ava” nos apresenta uma mulher confrontada com os espectros de um passado tumultuado, similar à figura em “Os Olhos de Tammy Faye” (2021), também interpretada por Chastain. Em um momento icônico do início do filme, Ava, num táxi em Paris, revela-se de forma surpreendente, desafiando as expectativas do público com uma sequência que é tudo, menos previsível.

Os relacionamentos de Ava são complexos. Há sua relação tempestuosa com a mãe, Bobbi, magistralmente interpretada por Geena Davis, mostrando que a atriz ainda está no auge de sua arte, e a dinâmica com a irmã, Judy. No centro dessas relações há um jogo de poder e lealdade, evidenciado pela interação com Duke, personagem de John Malkovich. Ele é o mentor e protetor de Ava, mas à medida que a trama se desenrola, vemos as rachaduras nesta relação. Simon, interpretado por Colin Farrell, entra em cena como um potencial substituto para Duke, mas vê em Ava uma vulnerabilidade a ser explorada.

Tate Taylor, com sua direção precisa, cria uma tapeçaria emocionante e tensa em “Ava”. É uma narrativa repleta de reviravoltas, que ilumina os recantos mais sombrios da psique humana, tudo enquanto celebra as performances estelares de Chastain e Davis. Ava é uma personagem tragicamente falha que, em sua busca por redenção, revela as cicatrizes de uma vida mal compreendida. Seu caminho tortuoso é um lembrete de que, às vezes, a busca por significado pode ser tão perigosa quanto ignorar a necessidade dele.


Filme: Ava
Direção: Tate Taylor
Ano: 2020
Gêneros: Thriller/Drama/Crime/Ação
Nota: 9/10