Filme com Henry Cavill na Netflix te levará para dentro dele e fará com que 113 minutos pareçam o resto de sua vida Nick Wall / Netflix

Filme com Henry Cavill na Netflix te levará para dentro dele e fará com que 113 minutos pareçam o resto de sua vida

Inspirado na história real do roteirista Chris Roessner, “Castelo de Areia” segue uma divisão de infantaria designada à cidade de Baqubah, no Iraque, cuja tubulação que distribui água foi danificada por bombardeios. O grupo precisa solucionar o problema da população de falta de água, enquanto lida com a hostilidade local e para no meio de um conflito entre sunitas e xiitas.

Chris Roessner se alistou no exército em 2001. Ironicamente, o ano em que as invasões ao Oriente Médio eclodiram, depois dos ataques de 11 de setembro. Ele havia se apresentado meses antes do maior ataque terrorista já registrado e sua intenção era apenas juntar dinheiro para a faculdade. Dois anos depois e após algumas missões, a divisão na qual fazia parte recebeu a missão retratada no filme.

Roessner não quis que Matt Ocre (Nicholas Hoult), que representa ele próprio, fosse nenhum protagonista heroico. Ao invés disso, ele escreveu uma crônica sobre a rotina de seu grupo durante a perigosa e inesperada operação. Sua intenção era retratar seus colegas ao invés de si mesmo. O grupo, liderado pelo sargento Harper (Logan Marshall-Green), também é composto por Chutsky (Glen Powell), Enzo (Neil Brown Jr.), Burton (Beau Knapp) e Carter (Anthony Welsh).

Dirigido pelo brasileiro Fernando Coimbra, a fotografia pastel de Ben Richardson nos transporta para o terreno árido e arenoso que recebe o grupo de soldados que sabe que sua missão é pesada e arriscada. Além do trabalho braçal operado para consertar os tubos de água, cujas peças sequer são fabricadas mais, eles enfrentam a revolta da população, que se opõem à sua chegada.

Adentramos a rotina daqueles jovens rapazes, que embora apavorados com a tarefa que lhes foi incumbida, seguem sua missão por senso de dever. No início do filme, Ocre quebra a própria mão na porta de um veículo do exército na esperança de que o machucado lhe garanta uma dispensa do serviço militar. Ele não só não consegue, como é mandado para um lugar mais perigoso.

A divisão precisa viajar diariamente três horas até a estação de água, encher um caminhão pipa, voltar à cidade e distribuí-la entre os moradores. Depois, deve retornar à estação e trabalhar no conserto da tubulação. O caminho é cheio de armadilhas montadas por um exército civil que quer aniquilá-los ou expulsá-los de seu território. Enquanto a tarefa ordenada pelo governo é executada com dificuldades e em passos de formiga, os jovens soldados sentem que cada minuto naquele lugar pode ser o último.

Em entrevista, Roessner contou que seu sentimento em relação ao filme é de orgulho e tristeza. Orgulho por ter conseguido realizá-lo e tristeza por não conseguir se dissociar emocionalmente dele, afinal, é sua própria vida que está sendo contada. Há um misto de emoções entre conseguir se expressar e se sentir exposto.

No filme, Roessner também revela a relação distante com o pai, que abandonou a família quando ele tinha apenas seis anos. Após o filme, o roteirista compreendeu que ter se alistado não ocorreu apenas por causa da faculdade, mas uma maneira de se reconectar com o pai, que também serviu em uma guerra. Os dois voltaram a se falar depois que Roessner retornou aos Estados Unidos.

Para Coimbra, um ponto que lhe atraiu para o projeto foi a abordagem de um problema local. Não era um tema comum dos filmes de guerra, que falam apenas sobre matar e morrer. Há uma atenção especial para a relação entre os soldados, que se tornam praticamente uma família enquanto passam tanto tempo juntos, afastados e compartilhando as mesmas experiências, traumas, medos e frustrações. Além disso, há a relação dos soldados com a população local.


Filme: Castelo de Areia
Direção: Fernando Coimbra
Ano: 2017
Gênero: Guerra/Ação/Biogragia/Drama
Nota: 8/10