A comédia romântica escondida na Netflix que vai curar sua dor de cotovelo Divulgação / Indy Entertainment

A comédia romântica escondida na Netflix que vai curar sua dor de cotovelo

Adam (Justin Long) é um editor de vídeos que recebe o telefonema de Alisson (Cobie Smulders), sua ex-namorada, com quem se relacionou por oito anos, o convidando para seu casamento. Após aceitar o convite, ele entra em um estado de transe, em que vive entre a realidade e sua imaginação, que fica presa ao impacto provocado pela notícia do novo enlace da ex. Após pedir impulsivamente sua atual namorada em casamento, ele desfaz o pedido e termina a relação, em uma cena catastrófica e bizarra, mas plausível. Homens confusos e inconsistentes como Adam se proliferam por aí. Fato é que as ações irresponsáveis do protagonista acabam sendo explicadas pelos simples fato de que ele não superou Alisson.

Em uma caixa escondida em seu guarda-roupa, fotos e objetos que remetem ao relacionamento passado trazem à tona memórias apaixonadas e intensas, que ele não estava preparado para encarar. Estamos vendo as sequências iniciais de “Nunca Convide o seu Ex”, comédia dramática escrita e dirigida por Ryan Eggold, lançada em 2017.

É interessante a forma como a câmera se move ao redor de Adam, com uma inquietação nervosa e brusca, uma expressão das emoções do próprio protagonista, guiando o espectador pelas cenas. Os flashes do passado surgem granulados, como filmagens analógicas, remetendo a uma lembrança distante (embora tenha ocorrido há apenas um ano e meio) e uma dolorosa nostalgia.

É natural que quando estamos de coração partido só nos recordemos dos bons momentos compartilhados ao lado da pessoa amada. É como se os maus fossem anulados da memória. Todos os defeitos e tudo que cooperou para que a relação afundasse se dissipam. O pior para Adam é que Alisson é admirada por todos, considerada perfeita, então se há um culpado para o relacionamento não ter dado certo, provavelmente foi ele próprio. Reencontrá-la para seu casamento é uma forma de ele confrontar a questão: “Onde eu errei?”.

E quando se reaproxima do círculo de Alisson, Adam é ignorado por seus amigos, pisado por acidente, derramam uma taça de vinho em sua camisa e ele se sente deslocado e humilhado. Os incidentes dão comicidade à história ao mesmo tempo que alegoricamente dizem que ele não cabe mais nos mesmos espaços que a ex. A presença de Adam se tornou obsoleta, invisível e até inconveniente.

Apesar de seu passado juntos, há algo de magnético entre eles. Alisson quer Adam em seu casamento, porque não deseja o excluir de sua vida, afinal foram oito longos anos juntos. Ela se sente feliz e realizada, mas tê-lo por perto é uma forma de ancorar-se ao concreto, ao real. Adam, por sua vez, não se sente nem tão feliz e nem tão realizado. Rever Alisson é manter vivo o sonho do amor perfeito, ideal e romântico.

“Nunca Convide o seu Ex” é um filme delicioso e trágico. O amor não é um conto de fadas para todo mundo. Aliás, para quase ninguém. É bom que vez em quando uma alma atormentada como a de Ryan Eggold surja para nos dar um banho de água fria. Injustiçado, o filme amarga nota baixa no IMDb, mas é muito mais profundo e intimista do que parece. Histórias contadas não precisam ser dinâmicas para ser boas. As melhores são aquelas que vêm do coração.


Filme: Nunca Convive o seu Ex
Direção: Ryan Eggold
Ano: 2017
Gênero: Comédia/Drama
Nota: 9/10