A passagem na Terra não é sempre uma experiência agradável para todo mundo, mas para todas as pessoas, cada fase da vida traz novas impressões, aprendizados e evoluções. Embora se tornar adulto seja o período em que mais ganhamos autonomia, confiança e autoestima, é no começo da vida que as coisas parecem mais mágicas. Não há dúvidas de que cada idade tem seus desafios, mas a infância e a adolescência vêm com aquela incrível sensação de descoberta do mundo. E tudo parece muito mais deslumbrante e assustador nas primeiras vezes que vemos.
Quando somos crianças, somos egocêntricos. Não porque há maldade, mas porque ainda não percebemos a magnitude do mundo que nos cerca. Acreditamos que nós somos o centro gravitacional, enquanto todo mundo orbita ao nosso redor. Conforme o tempo passa, não nos sentimos mais tão únicos e especiais assim. Percebemos que a maioria das nossas crises existenciais, neuras e dúvidas são comuns a todas as pessoas.
A série de Jenny Han, “O Verão Que Mudou Minha Vida”, que transmite agora sua segunda temporada, centra na transição da infância para a adolescência de Belly (Lola Tung). O show aborda de uma maneira muito universal os sabores e dissabores do amadurecimento, das transformações físicas e das novas responsabilidades.
Da mesma autora de “Para Todos os Garotos que Já Amei”, que virou uma série de adaptações cinematográficas, “O Verão que Mudou Minha Vida” se passa na fictícia Cousins Beach, onde Belly passou todos os 16 verões de sua vida com sua família e com os Fisher.
Neste último verão, Belly passou por uma evidente transformação. A garotinha desengonçada e magrela de óculos ganhou contornos femininos e seu rosto amadureceu. Ela já não consegue mais esconder seus sentimentos pelo irmão mais velho dos Fisher, Conrad (Christopher Briney), que se tornou um adolescente introspectivo, misterioso e charmoso, com uma alma torturada a la James Dean. Ao mesmo tempo, a relação dela com o irmão mais novo de Conrad, Jeremiah (Gavin Casalegno) se estreita, provocando um previsível desconforto entre os dois garotos.
Com uma paisagem idílica da Costa Leste dos Estados Unidos, em que uma burguesia auto-focada e distante das preocupações externas desfila seu estilo de vida inefável e exuberante, Belly chega como uma penetra neste mundo intangível. Sua família não é rica como a de Conrad e Jeremiah. Ela própria não se sente confiante e bonita suficiente para fazer parte deste universo. No entanto, sua presença chega como uma brisa revigorante que lembra que o universo não se resume aquele minúsculo círculo inabalável e superficial. Belly é a certeza de que o mundo lá fora é mais interessante e menos perfeito.
Sua presença abala as estruturas dos dois irmãos de uma forma que ela própria não sabia que seria capaz de fazer, mas se descobrir como uma mulher também mexe com ela. A confusão de sentimentos que tem pelos irmãos também é um duelo de forças entre o racional e emocional que ela precisa resolver. Entre conflitos românticos, familiares e de autoconhecimento, percebemos inúmeras conexões com angústias, experiências e emoções que já vivemos em nossa própria juventude. Talvez seja por essa identificação que “O Verão em Mudou Minha Vida” é o sucesso que é.
Além disso, o apego de Han com seu produto é gigantesco. A idealizadora participa de todo o processo criativo da série, dos cenários aos figurinos e, até mesmo, da trilha sonora. Tudo para que o programa se mantenha fiel à literatura.
Série: O Verão que Mudou Minha Vida
Criadora: Jenny Han
Ano: 2022
Gênero: Romance / Drama
Nota: 7/10