A minissérie mais esperada de 2024 acaba de estrear na Netflix Divulgação / Netflix

A minissérie mais esperada de 2024 acaba de estrear na Netflix

“Ripley”, a série de Steven Zaillian obviamente inspirada no livro homônimo da americana Patricia Highsmith (1921-1995), publicado em 1955, e um desdobramento mais meticuloso do filme de Anthony Minghella (1954-2008), lançado em 1998, é um dos raríssimos casos de remake com personalidade — necessário até. Zaillian não se desvia um milímetro do texto da pena de Highsmith, dá ao espectador aquela sensação reconfortante de identificar os elementos centrais da história enquanto imprime seu próprio estilo a uma das tramas mais queridas do cinema contemporâneo.  

Nos oito episódios da única temporada, o diretor-roteirista parece ter claro o desejo de fazer com que o público deguste as inúmeras possibilidades exploradas por Minghella sob uma ótica um tanto mais sombria, enxergando em Thomas Ripley, o talentoso vigarista que dá nome aos dois trabalhos, o lado oculto sob as camadas de ouro da luz do Mediterrâneo, uma joia da fotografia do John Seale no filme de quarto de século atrás — uma espécie de fetiche do mestre, igualmente detectável em “O Paciente Inglês” (1996), também de Minghella. Aqui, o preto e branco de Robert Elswit dota “Ripley” de uma aura declaramente noir, como um negativo revelando o que se vislumbrava em Highsmith, mas não se conhecia em Minghella. 

No primeiro episódio, “Um Homem Difícil de Encontrar”, Zaillian faz as devidas apresentações — como se precisasse — até chegar às ambições de Tom, que aceita a proposta indecente (mas não para ele) de perseguir Richard Greenleaf em Atrani, cidadezinha da Costa Amalfitana, no sul da Itália. No segundo ato de “Um Homem Difícil de Encontrar”, o golpista surge esbaforido, subindo e descendo as escadarias sem fim de Atrani, até achar sua vítima, ostentando uma vida de luxo, ainda que serena, numa palacete no alto da colina; é quando Andrew Scott trata de sublinhar com mais força os contornos da psicopatia de Tom, achando em Johnny Flynn o contraponto ideal.  

Ainda nesse segmento, a Marge Sherwood de Dakota Fanning, a única figura feminina proeminente na narrativa, insinua-se como a pedra no sapato do vilão — que ele trata de amaciar e chutar para longe em “Narcissus”, a oitava e última parte. Antes, no quarto episódio, intitulado “La Dolce Vita”, o Zaillian despista a audiência com uma homenagem estética e nada gratuita a Fellini, o que só confirma a sofisticação — do diretor, de Highsmith, de Tom Ripley, de Minghella e desta nova obra-prima da cultura pop. 


Série: Ripley 
Criador: Steven Zaillian 
Ano: 2024 
Gêneros: Drama/Policial/Suspense 
Nota: 10