96 minutos sem piscar: um dos últimos filmes de Bruce Willis está na Netflix e vai te surpreender Divulgação / EuroVideo Medien

96 minutos sem piscar: um dos últimos filmes de Bruce Willis está na Netflix e vai te surpreender

O prólogo de “Fuga da Morte” lembra “Duro de Matar”, com Bruce Willis nos bons tempos, mandando que suspeitos ajoelhem-se depois de flagrá-los em circunstâncias duvidosas. Mike Burns lança mão de bons expedientes no propósito de reavivar no espectador o gosto por essas histórias quando tudo aponta para o mais do mesmo sem fim e um progressivo esgotamento do que ainda pode ter restado de frescor.

Há passagens o seu tanto artificiosas ao longo dos contidos 96 minutos, e, no entanto, o roteiro de Bill Lawrence também apresenta suas iluminações, muito graças à desenvoltura de Willis, cujo brilho àquela altura já fora nitidamente empanado pela afasia diagnosticada no ano seguinte. O veterano aparece pouco se em comparação com seus colegas, todos bem novos, mas quando o faz, é para resolver. Não deixa de ser curioso, estranho e até paradoxal que um homem como ele veja-se numa situação tão difícil, muito menos depois de anos como uma das encarnações da virilidade no cinema, mas aqui Willis revela uma outra faceta preparando-se para um adeus digno de seu carisma.

A sequência de abertura, quando dois tiros são disparados, é, na verdade, a ligeira prolepse de onde Burns parte a fim de amarrar toda a caudalosa narrativa de seu filme. A probabilidade de verificar que aqueles que têm a obrigação moral e de ofício de resguardar a sociedade se corromperam, seduzidos por promessas vãs de crescimento na polícia, corporação que Jack Harris continua a amar como se voltasse ao primeiro dia de trabalho da carreira, fica em suspenso, mas uma sua auxiliar direta e involuntária trava um primeiro contato algo traumatizante com a banda podre da lei.

Shannon Mathers, a alpinista ingênua de Jaime King, quase conclui a trilha do lago Easton, no estado de Washington, senta-se um pouco, toma fôlego, abre a mochila verde, saca uma caderneta de capa grená e toma nota das impressões que fervem-lhe à roda do pensamento, lembrando-se do pai, com quem costumava frequentar a reserva, com tempo bom ou dilúvios torrenciais. Shannon já se preparava para voltar à caminhada, mas uma conversa ao longe a detém. Numa caminhonete parada num dos acessos do parque, o traficante vivido por Oliver Trevena, conversa com a policial Billie Jean, de Lala Kent, demolindo as ilusões da moça quanto a estar segura no território. Uma piscadela, e quem assiste não consegue acompanhar a razão do brevíssimo entrevero dos dois, ainda mais estranho porque desfrutavam de uma estreita intimidade.

A bala que sai do revólver de Billie e alcança o malandro num efeito Matrix ao cabo da discussão prenuncia tudo o que vem depois, com a mocinha de King cada vez presa da policial-bandida, ansiando por um salvador. Quem? Harris, claro, que move céus e terras e rememora os bons tempos de patrulha, quando sofria com golpes de canivete enferrujado de adolescentes que usavam o carro dos pais sem permissão e combatia a nata do submundo. Dividido em capítulos, o quinto e último tomo de “Fuga da Morte” é de fato a despedida de Bruce Willis, que continua sua saga escapando do fim fora do cinema.


Filme: Fuga da Morte
Direção: Mike Burns
Ano: 2021
Gêneros: Crime/Suspense
Nota: 8/10