Cameron Díaz e Ashton Kutcher: a comédia romântica perfeita para desligar o cérebro e aproveitar o momento Divulgação / 20th Century Studios

Cameron Díaz e Ashton Kutcher: a comédia romântica perfeita para desligar o cérebro e aproveitar o momento

Todo clichê encerra um potente de carga de verdade, e dizer que amor é loteria pode ser reducionista, vulgar até, mas ninguém ousa questionar o acerto dessa ilação tão prosaica, quase tola em sua obviedade. Quem não aposta não perde — nem ganha —, e “Jogo de Amor em Las Vegas” é precisamente isso: o esforço desesperado, à primeira vista sem nenhuma chance de triunfo, de duas pessoas quanto a vencer o acaso e, usufruir, afinal, da mais humana das emoções. Tom Vaughan vale-se de uma premissa extravagante (e em muitos pontos ridícula) a fim de dar seu quinhão no anunciado das teorias sem qualquer lastro científico que se elabora sobre o amor, essa utopia sem a qual o mundo não seria capaz de seguir em frente, sufocado em seus escombros de orgulho sem lógica, dos quais o homem tenta erguer-se com movimentos sempre bruscos demais. Amar é o desprezo consciente e metódico por tudo o que não se relaciona diretamente a nós mesmos e o efeito paradoxal de tudo isso pode ser a solidão, mal que atravessa os séculos e parece ter cada vez mais vontade e força de manter essa sua jornada rumo ao domínio completo da vida do homem. Eis uma das variáveis mais incontrolavelmente ferozes do jogo do amor, em Las Vegas ou onde quer que seja.

Apesar de trazer a Cidade do Pecado no título, é Nova York quem está sempre em evidência no roteiro de Dana Fox, que abre com um plano geral da Grande Maçã ao anoitecer. A escolha de concentrar a história no lugar em que começa, por brincadeira ou por restrições orçamentárias mesmo, deslocando a ação para Las Vegas somente na última cena, implica um vultoso prejuízo à coesão da trama, com o espectador num suspense estúpido, aguardando pelas tomadas cheias de luz e brilho contrastando o negro profundo do céu do deserto de Mojave e, claro, pelas sequências de roleta nos luxuosos cassinos. Joy McNally, a agente do mercado de finanças interpretada por Cameron Díaz, e Jack Fuller, o carpinteiro vivido por Ashton Kutcher, estão em relacionamentos com intensidades opostas de afeto. Ao passo que Joy sai do trabalho ávida por encontrar-se com Mason, o noivo, de Jason Sudeikis, e recebe dele somente a atenção protocolar que se dispensa a uma conhecida na fila do supermercado — mesmo se essa simpática figura, nem distante nem próxima, traz-nos um smoothie gelado ao fim de uma jornada exaustiva —, Jack e a… e Kelly, papel de Krysten Ritter, a moça com a qual mantém um vínculo quase que puramente sexual, nem um caso, nem uma aventura e muito menos um romance, vivem como se não fossem se ver nunca mais, combinando novas fantasias para as próximas horas de prazer de que desfrutarem juntos. Em comum, os dois entregam-se ao vazio irremediável dessas conexões, até que a ruptura se dá para cada um de maneira igualmente dissemelhante: Jack, um farrista inveterado, perde o emprego na loja do pai, Jack Sr., de Treat Williams (1951-2023), e Joy leva um dos mais humilhantes foras do cinema — o que para ela, por ser mulher, acaba pesando muito mais, além de não demorar a sofrer baixas na carreira.

Vaughan não parece convencido do erro de cálculo e dobra a aposta, investindo nos desencontros de seus protagonistas em Nova York, já depois do malfadado casamento, tentando corrigir tudo no terceiro ato, nos minutos finais. Venturosamente, Díaz e Kutcher seguram o rojão com bravura, exibindo, quando possível, bom timing cômico.


Filme: Jogo de Amor em Las Vegas
Direção: Tom Vaughan
Ano: 2008
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 7/10