5 filmes da Netflix mais assistidos do mundo na atualidade

5 filmes da Netflix mais assistidos do mundo na atualidade

Somos constantemente desafiados a encontrar motivos que ratifiquem nossa crença na vida, ignorando o abatimento que embrutece e paralisa; combatendo a melancolia, que na dose imprópria, deixa o céu nebuloso da hígida reflexão e avança ao pântano da dúvida imanente e ubíqua, acerca de qualquer um e em qualquer parte; dobrando o que nos tenta fazer renunciar ao sonho de dias menos sombrios e gente mais risonha, o ideal mais elementar e mais cheio de ardis que se pode querer. Num só movimento, viver torna-se uma cornucópia de luzes e sombras que se atraem e se repelem, e se equivalem; subidas e descidas bruscas, repentinas, nauseantes, como num brinquedo macabro; entradas e saídas de labirintos claustrofóbicos que ficam tanto mais estreitos na proporção em que nos deparamos com nossas humanas limitações, agudizando a impressão de que no espírito do homem há mesmo lugar para todos os sonhos, mas nele encrustam-se igualmente muitas das côdeas que enxovalham o mundo para muito além da vã filosofia deste plano tão rasteiro.

Nascemos mergulhados em traumas muito particulares, guardados no mais secreto de cada um, sufocados por incertezas de toda ordem, dilemas existenciais cujo peso só nós mesmos podemos sentir, e isso já seria o bastante para tachar o homo sapiens como a mais desgraçada das espécies. Urge ao infeliz do gênero humano que o avalizem quanto ao que ele é ou deixa de ser, e essa é outra catástrofe irremediável do ser gente. As grandes transformações sociais começam dentro do indivíduo, daí não ser viável, à luz do pensamento de gênios como Arthur Schopenhauer (1788-1860) uma pretensa salvação do homem. No clássico “O Mundo como Vontade e Representação”, publicado em 1818, o filósofo, um dos pensadores que se celebrizaram pelo pessimismo, ao lado do dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855) e do também alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) —, prega que a verdade está sempre cercada da ideia do que julgamos como verdadeiro, e, em assim sendo, somos incapazes de discernir o certo do errado, o que, por turno, interdita ao ser humano a felicidade. Na mais rosicler das hipóteses, podemos arranjar nossa própria redenção, mediante a confissão de nossos desvios e, claro, o arrependimento sincero que coroa a jornada.

Nos cinco títulos da lista que compusemos, percebe-se uma medida da trindade nada santa do niilismo filosófico, bem como a necessidade vital de pegar pelos chifres o destino e a atávica sanha de vencer a miséria, de dar cabo da submissão de que se nutre a injustiça e proclamar-se, enfim, livre. Aoy, a garota devotada a seu talento com cutelos, facas e woks primorosamente lustrados, enfrenta outro dos grandes desafios de sua vida na cozinha de um restaurante fino, a própria encarnação da tirania. “Fome de Sucesso”, drama do tailandês Sitisiri Mongkolsiri, inspira no assinante da Netflix a mesma fúria da personagem de Aokbab — que resigna-se a caprichos de um chef psicótico, visando a metas de ascensão social (que não alcança) — justamente porque todos nos reconhecemos em sua pele num ou noutro momento da vida. Os outros quatro longas, todos lançados em 2023, também versam nessa toada e, dispostos em ordem alfabética, ratificam a Netflix como uma das plataformas de streaming mais diversas do mercado.