Filme com Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, na Netflix, vai te deixar sem fôlego Divulgação / Concorde Filmverleih

Filme com Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger, na Netflix, vai te deixar sem fôlego

Filmes que têm o condão de misturar seus protagonistas ao próprio enredo ascendem de pronto à categoria a um só tempo etérea e também bastante sólida, que abrange histórias não necessariamente memoráveis, mas que não passam despercebidos. “Rota de Fuga” oscila em níveis de tédio entre suportáveis e quase torturantes, avança para construções dramáticas que envolvem o público com seu caos cheio de método, investe pesado, como não poderia ser de outra forma, em sequências que sobrevalorizam a violência em cenas de pancadaria feitas do muito que já foi mostrado à farta em produções semelhantes e, em meio a tamanha balbúrdia, o diretor Mikael Håfström trata de fazer sobressaírem os detalhes que julga convenientes a fim de dar personalidade a seu trabalho. É assim, mascarando vigorosas imperfeições com aspectos encarados com mais condescendência que Håfström é capaz de marcar território mesmo no superpovoado nicho dos enredos de ação, que por óbvio, nunca são apenas isso.

Talvez a grande mágica de “Rota de Fuga” seja contar os dois nomes de que o diretor teria de lançar mão para alavancar seu filme de saída. Na Penitenciária Federal de Bendwater, no Colorado, os portões se abrem e dentro da cela um homem desenha na parede. Ray Breslin não é um preso comum. Quanto mais a história avança, mais se nota que o personagem de Sylvester Stallone reúne em torno de sua figura taciturna e exasperantemente serena alguma coisa de dúbio, de mal explicado, sensação que se corrobora à medida que sua rotina no cárcere deixa renuncia a boa parte do mistério que a envolve e o roteiro de Jason Keller e Miles Chapman autoriza que o público especule quanto ao passado dessa figura quase insondável. As aparições de Breslin na tela são diretamente proporcionais aos acontecimentos nebulosos que começam a se avolumar na trama, como a conversa com o guarda Roag, de Matt Gerald, que antecede a chegada de uma mulher, que por seu turno dá azo à explosão de um automóvel. Essa mulher, igualmente tão pouco óbvia, surge em momentos nos quais a tensão se presta a desequilibrar a pouca unidade narrativa que Håfström consegue, e volta no desfecho a fim de dar os esclarecimentos que o diretor negligenciou com todo o empenho. Enquanto isso, o filme se consolida como uma sucessão de pistas falsas, sempre ancoradas pelo anti-herói de Stallone. Na virada do segundo para o terceiro ato, o texto de Keller e Chapman alude a um tal Anthony Portos, prisioneiro 7.458 de Nova Orleans, na Louisiana, transferido sem muito alarde para a Bendwater. Esse é o gancho que Håfström encontra para incluir na história outro tipo também perdido como Breslin, e assim “Rota de Fuga” torna-se quem é.

Rottmayer, o outro casca-grossa do filme, aporta na história para dar um lastro de importância ao personagem de Stallone; entretanto, Arnold Schwarzenegger apresenta junto com as limitações dramáticas de sempre um louvável jogo de cintura quanto a impor-se na história sem prescindir de suas obrigações no enredo. A sequência de encerramento, em que Jessica Miller, a tal mulher obscura citada antes, faz com que Caitríona Balfe sintetize muito do que “Rota de Fuga” quer significar: uma história sem pretensões maiúsculas, que não reinventa a roda, mas que sabe muito bem onde quer chegar — e por qual caminho.


Filme: Rota de Fuga
Direção: Mikael Håfström
Ano: 2013
Gêneros: Thriller/Ação
Nota: 8/10