Um balé de brutalidade, suspense na Netflix é um dos filmes mais violentos da história do cinema A. Nurhaidir / Sony Pictures

Um balé de brutalidade, suspense na Netflix é um dos filmes mais violentos da história do cinema

Todo indivíduo refestela-se com seu próprio júbilo e padece de suas próprias dores, num e noutro cenário havendo-se com as consequências do que suas escolhas se convertem. Único responsável pelas decisões que o derrubam ou exaltam-no, o homem opta por um ou outro caminho tentando furtar-se às vivências pouco edificantes que hão de surgir sem que tenha controle sobre o que quer que seja, desvencilhando-se das armadilhas como (e quando) pode, lançando-se em meio a cada meandro tortuoso munido dos sonhos que o fizeram ser quem é, ansiando atingir um lugar de proveito. Apesar de não saber conduzir suas vontades, mesmo que diante de algumas glórias e um sem fim de tropeços, a natureza humana se convence de que a travessia é muito mais longa e penosa, e muito mais excruciante a depender de quem a faça. No momento mesmo em que manifestamos uma vontade qualquer, já principiamos a semear destruição por toda parte, evidência que aponta para uma conclusão um tanto óbvia: há que se declinar de toda vontade, mormente as que não têm pejo algum de iludir-nos com vãs promessas de felicidade, que, supomos, irão nos conduzir a uma vida melhor — ou menos ordinária. Sufocar as vontades, o desejo, o sonho poderia ser o atalho para a ansiada plenitude, o que não deixa de ser uma deliciosa utopia e um paradoxo entre amargo e poético. Existem muitas formas de se chegar ao topo — até porque existem muitas concepções de topo —, e subir nem é assim tão difícil. Durante a escalada, confabulamos com nossas profundezas mil jeitos de estender ao máximo nosso novo reinado, sempre muito mais efêmero que as ambições que o sustentam.

Gareth Evans volta a mergulhar no universo das gangues asiáticas em “Operação Invasão 2”, preservando toda a agilidade e, por conseguinte, toda a violência do filme original. Ao longo de duas horas e meia, o texto de Evans se estende pelo temperamento de personagens presos em traumas os mais variados, sem prejuízo do comentário social acerca das relações promíscuas entre o Estado e o crime. O diretor-roteirista determina o momento preciso em que o poder oficial e organizações criminosas começam a se fundir e a formar um só corpo numa Jacarta sitiada por bandidos de uniforme e pelos que matam-se entre si nos becos escuros de uma megalópole destituída da aura de paraíso de antanho.

Sem dúvida, o que faz com que o espectador empenhe mais de 150 minutos numa viagem pelo submundo da capital da Indonésia — ao menos o espectador não iniciado e pouco afeto à ubíqua pancadaria do cinema macho, entre os quais me incluo — é a maneira como Evans elabora as subtramas de um enredo que se desenrola aos olhos da audiência freneticamente. Concluída a longa sequência que deixa claro que o arco central está longe de ser harmonizado, com Rama, o herói formulaico de Iko Uwais encarnando sozinho o bom, o justo e o belo contra o estabelecido, entra em cena Uco, de Arifin Putra, numa estimulante dicotomia do herdeiro de um império de sangue com achaques de consciência. Esse é o verdadeiro pulo do gato de uma história sem nada o que acrescentar nem mesmo ao que já se apresentou no gênero, tanto pelo desempenho maduro de Putra como pela condução segura do diretor.


Filme: Operação Invasão 2
Direção: Gareth Evans
Ano: 2014
Gêneros: Thriller/Ação
Nota: 8/10