Filme com Meryl Streep e Leonardo DiCaprio é a comédia dramática mais engraçada e trágica da Netflix Niko Tavernise / Netflix

Filme com Meryl Streep e Leonardo DiCaprio é a comédia dramática mais engraçada e trágica da Netflix

À medida que a sociedade enfrenta incertezas crescentes, Adam McKay, em seu filme “Não Olhe para Cima”, articula um retrato ácido e ao mesmo tempo jocoso da modernidade. Lançado em um momento em que o mundo ainda se recuperava dos efeitos de uma pandemia devastadora, o filme cria uma narrativa que explora desde as inquietações sociais até a insustentável evolução tecnológica, encapsulando a trivialidade de figuras públicas e a constante reviravolta climática. A estrutura do enredo é mantida clara, segregando cada tema em seu devido lugar, mas com uma mescla ocasional para enfatizar o caos subjacente. 

O filme narra uma típica história de catástrofe onde um cometa ameaça destruir a Terra. A descoberta deste cometa, feita por Randall Mindy, um astrônomo da Universidade de Michigan, e sua assistente, Kate Dibiasky, os leva a um urgente e frenético encontro com a Presidente dos EUA, Janie Orlean, interpretada por Meryl Streep. Os cientistas tentam alertar sobre a severidade iminente, mas encontram uma administração mais preocupada com intrigas políticas do que com soluções efetivas. 

A narrativa se aprofunda no sarcasmo político à medida que a história se desenrola na Casa Branca, cada vez mais imersa em uma atmosfera de farsa e comédia que espelha de maneira dolorosamente realista a condição humana e o cenário político. A obsessão pela manutenção do poder sobrepõe-se à catástrofe iminente, com a Presidente Orlean mais envolvida com eleições futuras do que com o bem-estar público. 

Enquanto a história avança, McKay utiliza seus personagens para destacar a deterioração do debate público e a marginalização da ciência em favor do sensacionalismo e do populismo. A interação entre os cientistas e a mídia, exemplificada na entrevista com Tyler Perry e Cate Blanchett, destaca a complexidade das relações entre mídia e ciência. As performances exageradas dos âncoras, personificados por Jack Bremmer e Brie Evantee, adicionam uma camada de ironia à crítica de McKay sobre a superficialidade e o alarmismo da cobertura jornalística. 

O apogeu do filme não apenas encapsula a desesperança em relação à situação apresentada, mas também oferece uma crítica incisiva sobre a condição humana e a tendência ao escapismo. A equipe de computação gráfica consegue, por fim, evocar um vislumbre de conforto, contrastando com a dura realidade da natureza manipuladora dos seres humanos, num final que oscila entre a sátira e a seriedade. 

Assim, “Não Olhe para Cima” não apenas reflete os dilemas do século 21, mas também fornece uma perspectiva cáustica e profundamente reflexiva sobre a sociedade contemporânea, mesclando com habilidade o humor ácido com uma crítica cultural perspicaz. 


Filme: Não Olhe Para Cima 
Direção: Adam McKay 
Ano: 2021 
Gênero: Comédia/Drama/Ficção Científica 
Nota: 9/10