O filme sensível, doce e delicado, na Neflix, para assistir com o coração aberto e preenchê-lo de amor Divulgação / Columbia Pictures

O filme sensível, doce e delicado, na Neflix, para assistir com o coração aberto e preenchê-lo de amor

O cinema pode até ser um lugar de fuga, onde encontramos universos fantásticos, maravilhosos e que jamais pisaremos. Mas ele, também, pode ser uma representação da vida e de tudo que sentimos, vivenciamos, experimentamos, como seres passageiros em uma aventura por este mundo. Ele também pode nos colocar em contato com o chão que já conhecemos, nos fazer repensar nossas histórias e compreender a vida por outras perspectivas, além do nosso umbigo.

Filmes que nos fazem confrontar nossos medos, defeitos, traumas podem ser gatilhos para nosso cérebro ou podem nos fazer enxergar o que não enxergávamos quando estávamos cegos pela nossa dor e sofrimento. Produções que se passam em clínicas de recuperação podem ser chocantes e assustadoras, como em “Bicho de Sete Cabeças”, “Garota, Interrompida” ou “Um Estranho no Ninho”, que embora nos dê uma visão muito realista e avassaladora da verdade, pode não ser o tipo de visão de mundo que você quer ou precisa agora. Mas produções que tratam do tema de forma mais branda, bem-humorada e otimista, como “Se Enlouquecer, Não Se Apaixone” ou “28 Dias”, pode ser o que você precisa para descobrir seu caminho para a cura interior.

Filmes não substituem terapia, mas são uma excelente maneira de abrir os olhos para coisas que não queremos enxergar, como nossos próprios defeitos. Em “28 Dias”, comédia de Betty Thomas dos anos 2000, temos Gwen (Sandra Bullock), uma jornalista alcoólatra que, depois de causar muita confusão no casamento da irmã por estar embriagada, rouba a limusine da noiva, perde o controle da direção e entra dentro de uma casa com o carro. Para não ser presa, o juiz determina que ela fique internada em uma clínica de reabilitação. Lá, ela encontra alguns residentes bastante excêntricos, que irão ensiná-la muitas lições.

Mas o alcoolismo não é o único defeito de Gwen, que também é uma pessoa egoísta, egocêntrica, teimosa e rebelde. Seu tempo na clínica vai ajudá-la, não apenas a lutar contra o vício, mas também a amadurecer e trabalhar sua personalidade complicada. Mas a cura não vem sem algumas perdas e danos, sacrifícios e renúncias. Ela terá de aprender a conviver com seus colegas, cumprir tarefas diárias básicas, como organizar o próprio quarto, e resistir às visitas de seu namorado igualmente problemático e alcoólatra, Jasper (Dominic West).

“28 Dias” faz parte de uma safra muito proveitosa de comédias dos anos 2000, entre as quais se incluem “Meninas Malvadas”, “Como Perder Um Homem em 10 Dias”, “Como se Fosse a Primeira Vez”, “Casamento Grego”, dentre outros. Não dá para reclamar desta década maravilhosa para o cinema em comédias, que se tornaram um verdadeiro marco do gênero. Sandra Bullock, por sua vez, também teve, nesta época, uma prolífica carreira em comédias românticas que encantaram muitos espectadores e a tornaram muito popular.

Uma deliciosa comédia, que teve muito estudo sobre o cotidiano das pessoas em clínicas de recuperação e foi inspirada por situações reais vividas nestes lugares, “28 Dias” consegue entregar humor, boas atuações e leveza, mesmo diante de temas tão densos abordados no roteiro. No decorrer da recuperação de Gwen, o filme traz flashbacks de sua infância, que mostram para o espectador que seu problema com álcool estão enraizados, quando ainda criança, ela via sua mãe passar pelas mesmas situações em que vive na história. O enredo busca evitar, por fim, adentrar ainda mais na questão do trauma para não sugar a comicidade, mas deixa importantes questionamentos sobre o peso das ações dos pais, a longo prazo, na vida dos filhos; o fato de que alguns vícios podem ser genéticos ou comportamentos reproduzidos; a importância de se ter apoio emocional e familiar durante sua recuperação; além de da altíssima taxa de reincidência de uso de drogas entre pessoas que passaram por essas clínicas. Um filme sensível, doce e delicado para assistir com o coração aberto e que irá preenchê-lo de amor.


Filme: 28 Dias
Direção: Betty Thomas
Ano: 2000
Gênero: Comédia / Drama
Nota: 8/10