Ficção científica surpreendente da Netflix vai provocar abalos sísmicos no seu cérebro Divulgação / Netflix

Ficção científica surpreendente da Netflix vai provocar abalos sísmicos no seu cérebro

É preciso ter o mínimo de desapego à realidade para poder dar asas à imaginação e se deixar levar neste filme de Oriol Paulo, um cineasta espanhol com trabalhos respeitosos no currículo e que entrega esta bem-avaliada ficção-científica, chamada “Durante a Tormenta”. Mas imagino que, aonde quer que seja transmitido, há dois tipos de público que irá recebe-lo. Aquele que se entrega à trama fantasiosa  e cheia de nós, que amarra de pouco em pouco suas pontas e que, no fim, ainda deixa alguns modestos fios soltos. E tem aquele público que simplesmente não acredita em nada que está sendo transmitido na tela e que provavelmente vai achar este filme uma perda de tempo. É que o enredo de “Durante a Tormenta” é muito mirabolante. O que não quer dizer, de forma alguma, que seja ruim.

Ele gira em torno de Vera Roy (Adriana Ugarte), uma enfermeira que acaba de se mudar para uma casa com seu marido, David (Álvaro Morte), e sua filha, Gloria (Luna Fulgencio). Em frente à sua nova residência, mora Aitor (Miquel Fernandez), um amigo de seu marido, que durante o jantar conta uma história que ocorreu há 25 anos. Na casa em que Vera se mudou morava um menino, chamado Nico (Julio Bohigas-Couto). Ele gostava de se gravar tocando violão. Um dia, ele escutou uma briga na casa vizinha e decidiu ir até lá ver o que estava acontecendo. Então, descobriu um assassinato. Ao correr assustado para a rua, acabou atropelado por um carro que passava no mesmo momento, e morreu. O caso parou nos noticiários.

Pouco antes do jantar com Aitor e sua mãe, Vera e o marido haviam encontrado em um armário da nova casa uma televisão de tubo e a câmera que Nico usava para se filmar. Eles assistiram um trecho de um dos vídeos gravado pelo menino há mais décadas. Até que, durante a madrugada, a televisão acaba ligando sozinha. Vera acorda e se depara novamente com o menino, apesar de o VHS não estar inserido na máquina. Por algum motivo, que está ligado a uma tempestade que ocorreu nas duas ocasiões — a da morte de Nico e a noite em que Vera está vivendo — um buraco dimensional permite com que Vera e Nico se comuniquem por meio da televisão. Ela o avisa sobre sua morte, evitando que a tragédia aconteça. O que Vera não espera é que, no dia seguinte, quando acorda, sua vida toda está transformada. Vera não se casou com David. Por isso, sua filha, Gloria, nunca nasceu. Ela na verdade não é uma enfermeira, mas uma médica. Ao ir à delegacia relatar tudo que vivenciou, acaba trazendo à tona o crime que aconteceu na casa vizinha 25 anos atrás.

Eventos confusos, mas completamente justificáveis, vão se sucedendo. Vera está determinada a recuperar Gloria, mesmo que isso represente tentar novamente alterar o passado. Enquanto busca realinhar tudo que está fora do eixo, Vera conta com a ajuda do delegado, que mais tarde acaba se tornando um dos personagens mais importantes da trama.

É necessário que se destaque que o diretor Oriol Paulo é um mestre do suspense e da reviravolta. Ele sabe construir isso de uma forma ainda mais elegante que Guy Ritchie, que tem um estilo mais subversivo. Já Paulo tenta erguer suas narrativas de forma mais erudita, como se escrevesse um livro. Impossível não ser surpreendido por alguns de seus plot twits e um exemplo disso é seu fantástico e genial “Um Contratempo”.  

Algumas das pontas soltas, e vou tentar falar disso entregando o mínimo de spoilers possível é: quando Vera reencontra Nico vivo no presente, ele é bem mais jovem que Aitor. Como isso é possível se ambos eram amigos da mesma idade quando crianças? Outro ponto que Paulo deixou de explicar é a razão de Nico, no presente alterado, saber onde o corpo da vizinha assassinada ter sido escondido e, mesmo assim, não ter contado nada à polícia ao longo dos últimos 25 anos. Quem o faz é sempre Vera (independente de qual realidade esteja vivendo). Fora isso, é preciso muita criatividade para ser Oriol Paulo e escrever seus excelentes scripts.

“Durante a Tormenta” é um filme de 2 horas e 10 minutos que irá entreter aqueles que estiverem dispostos a acreditar em uma boa história de ficção científica.


Filme: Durante a Tormenta
Direção: Oriol Paulo
Ano: 2018
Gênero: Suspense/Ficção Científica
Nota: 8/10