Ganhador do Oscar, a mais bela história de amor do cinema contemporâneo está na Netflix Divulgação / Focus Features

Ganhador do Oscar, a mais bela história de amor do cinema contemporâneo está na Netflix

Baseado em um clássico da literatura inglesa do atual século, o filme de Joe Wright “Desejo e Reparação”, reproduz o amor jamais concretizado entre Robbie e Cecilia, dois jovens apaixonados de classes sociais diferentes e que são separados pelo ciúme de Briony, irmã mais nova da moça. O autor do livro, Ian McEwan, é conhecido exatamente por sua obscuridade ao retratar romances. Nesta narrativa, ele esfarela as emoções de seus leitores justamente por proporcionar um realismo tão fiel quanto cruel à sua história. A vida não tem piedade.

Interpretados por James McAvoy e Keira Knightley, Robbie e Cecilia estudaram juntos, mas devido a arrogância da jovem, os dois nunca foram amigos no colégio. Robbie é filho da empregada da família e foi abandonado pelo pai ainda criança. Devido a amizade entre sua mãe e os patrões, a família Tallis, seus estudos são pagos na mesma escola de Cecilia e ele sonha em estudar medicina. Apesar do tratamento frio que a moça lhe oferece, Robbie a idealiza e está apaixonado. Por outro lado, a caçula da família, Briony, que sempre foi muito imaginativa, também pensa estar apaixonada por Robbie.

Após testemunhar duas cenas-chave sensuais entre Cecilia e Robbie, nas quais interpreta de maneira equivocada — até porque está com ciúme da relação entre eles — Briony o acusa de ter abusado sexualmente de Lola, uma hóspede da família. Fragilizada emocionalmente por ter sofrido, de fato, um ataque, Lola não confirma a identidade de seu abusador, mas também não desmente Briony. Como consequência, Robbie é levado preso e, posteriormente, forçado a servir o exército na Segunda Guerra Mundial, contra os nazistas.

Demora cerca de quatro anos para que Cecilia consiga reencontrar seu amor. Durante um breve encontro antes da próxima missão de Robbie na guerra, eles reatam e fazem planos para o futuro, mas os tempos são difíceis e incertos. Não há segurança se os apaixonados terão uma nova chance para consolidar seu amor.

Agora com 18 anos, Briony toma consciência de suas ações e percebe que despedaçou sua família e separou sua irmã do homem que amava. Ela tenta reparar os danos, mas costurar um passado completamente esmigalhado pode ser mais complicado do que parece. Ainda mais quando se causou feridas tão profundas e difíceis de fechar. Briony, que sempre teve uma imaginação afiada, terá de usá-la para tentar fazer as pazes consigo mesmo e reduzir os estragos de suas ações.

É interessante como o filme intercala cenas hedônicas da vida da família Tallis, em sua mansão, com outras de guerra, nas enfermarias em Londres, com soldados estraçalhados fisicamente, e narra a história em três espaços de tempo: passado, presente e futuro. As três personas centrais do romance são tão expressivas que é como se “Desejo e Reparação” já tivesse, nesta adaptação de Wright, alcançado sua versão final e qualquer outra tentativa de filmar novamente essa história a arruinaria. Há uma química quase que dolorosa entre McAvoy e Knighley. Talvez o mérito aqui seja principalmente do ator, cuja elocução gestual e verbal parece tão pura, desarmada e exposta. O rosto e olhar de McAvoy expressa o tipo de dor impronunciável de seu personagem e o público sente na pele e na alma.

Saoirse Ronan, em seu primeiro papel de notoriedade, como Briony, é a face congelada e implacável de um animalzinho sádico e vingativo em busca de sua própria noção de justiça. Não foi à toa que ela cresceu tanto em outros papéis depois deste. Um talento extremamente raro e autêntico.

“Desejo e Reparação” não faz compromissos com o público para um final feliz. Cada um acredita na versão que deseja, se a real ou a de Brionny, que reescreve a história em uma metalinguística autoindulgente. Um filme para se guardar na memória e reassistir sempre que o coração estiver pronto.


Filme: Desejo e Reparação
Direção: Joe Wright
Ano: 2007
Gênero: Drama / Romance
Nota: 10/10