Crônicas

‘Deixar para amanhã’ é a maneira mais eficiente de jogar a vida fora

‘Deixar para amanhã’ é a maneira mais eficiente de jogar a vida fora

Não se trata aqui de um passeio trivial que não aconteceu ou da minha falta de vitamina D, que tem me prejudicado. Trata-se do hábito incorrigível que muitos temos de adiar felicidade como se a vida estivesse sempre disposta a nos devolver no futuro os momentos que hoje negligenciamos. O problema é que se por um lado a vida é generosa e oferece a possibilidade de recomeço, por outro ela é implacável quando resolve dizer: passou. Já era.

Se for pra ter um amor, que ele tenha olhos de ressaca

Se for pra ter um amor, que ele tenha olhos de ressaca

Não dá para viver de meias medidas, foi o que concluí depois de uns goles de vinho barato. Se a bebida fosse boa, talvez tivesse me mantido na humildade fabricada dos muito abastados. Mas há dias em que se está mais corajoso que o normal. Dias em que metas são traçadas e sonhos são sonhados. Tudo sem muita modéstia, tem dias em que se acorda para ser grande.

Troco uma dúzia de amantes por um único amor

Troco uma dúzia de amantes por um único amor

Quem já não sonhou em ter alguém que realizasse todos os seus prazeres? Imagino como seria ter um escravo de amor que obedecesse às leis de um romance inventado por mim, que comigo protagonizasse as mais incríveis cenas profanas, que não me castrasse os impulsos nem me regulasse a libido. Um devoto a mim e à minha maneira de ser e querer do meu jeito, mesmo quando eu não quisesse ser nada, senão eu mesma e a minha mesmice.

‘Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu’

‘Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu’

Olhar através do buraco da fechadura parece um tanto excitante. Há em nós um espectador “voyeur”, passeando pelas inúmeras janelas indiscretas da internet e das relações cotidianas. Vídeos vazados, nudes, batida de carro, briga de vizinho — dramaturgia sedutora e instigante estimulando a mirada. Para alguns, não há diversão maior do que a novela da vida alheia. É inegável: observar o outro secretamente é tão provocante quanto acompanhar a dança que o olhar da câmera do Hitchcock executa.