Autor: Eberth Vêncio

Não era amor

Não era amor

Sou um homem antiquado, maduro como uma banana, metido com uma mulher muito mais jovem, muito mais louca, igualmente imatura. Serei também um inseto? Quisera passar pela metamorfose de que nos fala Kafka e ser pisoteado por pés tão cativantes.

Você tem um passado promissor pela frente

Você tem um passado promissor pela frente

Mataram a tiros Dona Carmem, a mulher que me lia as mãos. Perdi o chão; ela, a vida. Eu soube que restou cogitado pelos técnicos da funerária serrá-la ao meio, num corte sagital que pegava da forquilha até o cocuruto, um recurso hostil, grotesco, porém, estratégico, para acomodar, fazer caber o seu cadáver gorducho dentro de dois ataúdes de pau-bosta. A família ria de estupefação e ódio.

Enjoei de viver

Enjoei de viver

— Fundamentalmente, eu me tenho me ocupado com pequenos delitos nas linhas do metrô. Tenho as mãos limpas. Nunca matei um homem. Nunca usei um estilete que fosse. Certa vez, por mero descuido, gozei na testa de uma venezuelana e ninguém deu a mínima. Pensaram que eu fosse um doido qualquer aprontando mais uma das minhas. E ainda vociferam que não existe preconceito racial neste país.

Na noite de natal, matei um cara

Na noite de natal, matei um cara

Na noite de natal, matei um cara. Revirava lixo. Também chafurdo caçambas. Fugi a pé com o antigo suéter de um bacana respingado de almôndegas e sangue. Alguém sempre encontra cabelo no molho à bolonhesa e compartilha a foto do prato, injuriado, nas redes sociais, acusando a indústria alimentícia de triturar ratos junto com os tomates.