A melhor comédia romântica dos últimos 5 anos está na Netflix Divulgação / Imagem Filmes

A melhor comédia romântica dos últimos 5 anos está na Netflix

Poucos cineastas têm habilidade para explorar com elegância as caprichosas voltas do destino como Woody Allen continua fazendo. Com uma coleção de reflexões sobre o insignificante papel da humanidade diante das forças universais, Allen, aos 88 anos e após muitos revezes, dedica-se a dar vida e forma a narrativas que atingem as vastas dimensões da tela de cinema, combinando todos os elementos técnicos com uma harmonia que continua a nos fascinar.

Essa habilidade é evidente em “Um Dia de Chuva em Nova York”, uma obra que entrelaça desencontros e transforma radicalmente a vida de um casal em pouco mais de um dia. Durante o filme de uma hora e meia, o diretor e roteirista integra múltiplas referências a figuras icônicas do século 20 que louvaram a habilidade de Nova York em juntar e afastar amantes, atribuindo ao filme a sensação de ser um documento vibrante de uma era que parece eterna — ainda que ele próprio esteja ciente de que precisamos nos ajustar aos tempos atuais. 

Esta ideia de conexões cósmicas, um laço etéreo que a humanidade fortalece entre si, é habilmente detalhada em filmes como “Um Lindo Dia na Vizinhança” (2019), de Marielle Heller, e obras de François Truffaut, ou ainda em “Meia-Noite em Paris” (2011) de Allen, uma meditação definitiva sobre a futilidade de lamentar o passado. Esses filmes nos levam à triste aceitação de que somos eternamente subjugados pelo fluxo implacável do tempo, que dita os ritmos da vida e da morte.

No seu 48º filme, Allen explora as inquietudes existenciais através de Gatsby Welles e Ashleigh Enright, interpretados por Timothée Chalamet e Elle Fanning. Gatsby, um jovem privilegiado, frequenta uma universidade tradicional nos arredores de Nova York, mas sua verdadeira vocação é vencer nos jogos de pôquer contra adversários arrogantes, onde consegue amealhar significativas somas de dinheiro. O encontro com Ashleigh ocorre na rotina universitária, mas é uma viagem a Nova York para uma entrevista que desencadeia a trama.

A entrevista é com Roland Pollard, um cineasta mergulhado em um tormento pessoal profundo. Liev Schreiber traz uma dose de tragédia que complementa o sabor agridoce do filme, e Selena Gomez, como Chan, a mulher com quem Chalamet interage em uma cena típica de Allen no Brooklyn, ajuda a transformar “Um Dia de Chuva em Nova York” em uma fábula pós-moderna, inovadora e substancialmente sincera — algo também evidenciado pelo envolvimento de Ashleigh com Francisco Vega, interpretado por Diego Luna, um charmoso trapaceiro que quase seduz a jovem em um romance desafortunado. Claro, sendo um filme de Allen, há profundidade que transcende esta breve descrição, mas isto por si só já é bastante revelador.