Dirigido por George Clooney e digno de Oscar, filme na Netflix vai fazer você querer ficar em casa no final de semana Divulgação / Columbia Pictures

Dirigido por George Clooney e digno de Oscar, filme na Netflix vai fazer você querer ficar em casa no final de semana

George Clooney dirige e protagoniza “Caçadores de Obras-Primas”, relato comovente e dinâmico da hegemonia de Adolf Hitler (1889-1945) sobre a Europa durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Diabolicamente astuto, Hitler sempre soube que uma das formas mais efetivas de dominar os povos que mantinha sob seu tacão era sequestrar-lhes a honra por meio da apropriação ilícita e covarde do que possuíam de mais valioso, aquilo que os distinguia entre si e permitia-lhes sonhar com uma independência ainda remota.

O texto de Clooney, Grant Heslov e Robert M. Edsel procura revelar episódios verídicos de uma expedição americana à Bélgica e à França em busca dos tesouros da humanidade pilhados pelos alemães. Essas histórias de sucessos e fracassos já mostradas pelo cinema algumas vezes — umas tão plenas de movimento que chegam a cansar o espectador — vão saindo das brumas do tempo para se apresentar sob uma forma menos abstrata, adquirem contornos humanos ou escandalizam e provocam o asco devido à psicopatia de seus personagens, a sua indiferença para com os demais, ao ódio indisfarçado e orgulhoso quanto a seu comportamento bárbaro. 

Em Gante, no noroeste belga, um homem examina um quadro do século 6º. Com calma, o diretor põe as coisas em seus lugares devidos, e Frank Stokes, o oficial do exército americano vivido por Clooney, resolve que mesmo sob real ameaça de bombardeio, os Aliados estão imbuídos do dever moral de resgatar uma tela uma dentre as várias outras de que o enredo ainda vai falar. Esse segmento leva o público àquela praia da Normandia, após o Dia D da Operação Overlord, em 6 de junho de 1944, e senhores um tanto idosos para a dureza da batalha escorregam pelas franjas do mar tentando fazer sua parte, para que, transcorridas  sete décadas, gente deste insano século 21 possa deleitar-se com a apreciação da Madona das Rochas de Leonardo da Vinci (1452-1519) ou, por óbvio, o Davi de Michelangelo Buonarroti (1475-1564). Surgindo aqui e ali, a figura opulenta e acolhedora de John Goodman quebra o excesso de rigidez de uma narrativa tétrica, mas necessária, que aponta para um final ditoso, embora pontilhado pela morte de valentes anônimos que entregaram sua vida pela beleza. 

Aos poucos, temas espinhosos e batidos — a exemplo, claro, da liderança de Hitler na Alemanha dos anos 1930 e 1940 — ganham abordagens novas e excepcionais, o que fomenta a conclusão lógica de que o assunto não está superado e de que é urgente se falar sobre suas questões mais obscuras. “Caçadores de Obras-Primas” presta-se a uma especulação inteligente acerca da vida bestial que teríamos caso não se conseguisse parar o nazismo, se é que haveria sobrado alguém para confirmar essa suspeita. 


Filme: Caçadores de Obras-Primas 
Direção: George Clooney 
Ano: 2014 
Gêneros: Guerra/Thriller 
Nota: 8/10